quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PORTUGAL NO SEU MELHOR

A tempestade parece estar a dissipar-se. Ainda não 
será desta que o governo Passos-Portas se desmembrará. Mas não se 
pense que os estragos feitos pelo temporal orçamental (iniciado 
curiosamente a 7 de setembro com a gigantesca manifestação popular 
contra a TSU) não terão consequencias. Como geralmente acontece em 
Portugal, os governos caem por si e não por acção das oposições. Este 
não será portanto excepção. Haverá que esperar por nova oportunidade 
mais propicia para a realização de novas eleições, pois só então as 
máquinas partidárias se começarão a mover tentando afastar os 
respectivos partidos da responsabilidade da queda antecipada do 
governo. E quando será isso? A meu ver, quando as pessoas começarem a 
sentir na pele o impacto das medidas brutais do novo orçamento e a 
impossibilidade material de pagarem os respectivos impostos ao Estado. 
Ou seja, lá para a Páscoa. Até lá será dado um novo período de 
carência ao novo governo remodelado e reesturturado que saia desta 
crise. Só quando as pessoas se aperceberem de que o problema não está 
no governo mas nas pessoas que o formam (Passos e Portas lá estarão) é 
que a furia regressará às ruas e nessa altura redobrada por meses de 
espera frustrada. Aproximar-nos-emos cada vez mais da Grécia, que 
nessa altura paradoxalmente estará já a recuperar. Cavaco constatará o 
desastre e convocará eleições coincidentes ou não com as autárquicas. 
Do resultado delas dependerá o nosso futuro. A provável vitória do 
centro esquerda (da qual resultará uma coligação PS-BE) atirará 
Portugal para um período negro da sua história, provocando uma 
eventual saída do euro (e da UE) e para um isolamento internacional 
que nos transformará nos párias da Europa, escorraçados por todos os 
antigos parceiros e usados pelos espanhois como caixote do lixo da 
peninsula. 
Como será possivel chegarmos a este ponto? Seremos 
assim tão estupidos e ignorantes? Tal como as coisas se têm passado 
até hoje, terei infelizmente que concluir que sim. A culpa é nossa e 
só nossa. Não queiramos passar as culpas para terceiros como de 
costume, dizendo a nós próprios (porque os outros sabem que assim não 
foi) que foram os bancos que não deram condições para o 
desenvolvimento do país, que os governos foram incompetentes e míopes, 
que a UE não nos ajudou bastante e que o "grande capital" não tem 
sentimentos nem fronteiras. Quem fez o 25 de abril? Não foram os 
militares portugueses? Quem glorificou o maior bandido de todos os 
tempos (Álvaro Cunhal) como heroi nacional? Não foram os portugueses? 
Quem não conseguiu democraticamente reestruturar um país 
desestruturado por um grupo de gangsters que conduziram o PREC? Foram 
os politicos portugueses com medo uns dos outros. 
Que houve excessos e ladroagem não há duvidas. Mas 
em que país isso não acontece? Aqui o que faltou foi metê-los na 
prisão. Mas tambem não foi isso que nos desgraçou. O que nos perdeu e 
perderá é a nossa congénita tendencia para o deixa-andar, a nossa 
lassidão desleixada, a crença na salvação divina, a ignorancia 
estrutural e a falta de vontade em sair dela, a eterna desconfiança 
nos outros e a irreprimivel inveja impregnada em nós geneticamente, 
enfim, o nosso atraso civilizacional que a democracia evidenciou e a 
crise revelou. 


ALBINO ZEFERINO 18/10/2012 

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