A tempestade parece estar a dissipar-se. Ainda não
será desta que o governo Passos-Portas se desmembrará. Mas não se
pense que os estragos feitos pelo temporal orçamental (iniciado
curiosamente a 7 de setembro com a gigantesca manifestação popular
contra a TSU) não terão consequencias. Como geralmente acontece em
Portugal, os governos caem por si e não por acção das oposições. Este
não será portanto excepção. Haverá que esperar por nova oportunidade
mais propicia para a realização de novas eleições, pois só então as
máquinas partidárias se começarão a mover tentando afastar os
respectivos partidos da responsabilidade da queda antecipada do
governo. E quando será isso? A meu ver, quando as pessoas começarem a
sentir na pele o impacto das medidas brutais do novo orçamento e a
impossibilidade material de pagarem os respectivos impostos ao Estado.
Ou seja, lá para a Páscoa. Até lá será dado um novo período de
carência ao novo governo remodelado e reesturturado que saia desta
crise. Só quando as pessoas se aperceberem de que o problema não está
no governo mas nas pessoas que o formam (Passos e Portas lá estarão) é
que a furia regressará às ruas e nessa altura redobrada por meses de
espera frustrada. Aproximar-nos-emos cada vez mais da Grécia, que
nessa altura paradoxalmente estará já a recuperar. Cavaco constatará o
desastre e convocará eleições coincidentes ou não com as autárquicas.
Do resultado delas dependerá o nosso futuro. A provável vitória do
centro esquerda (da qual resultará uma coligação PS-BE) atirará
Portugal para um período negro da sua história, provocando uma
eventual saída do euro (e da UE) e para um isolamento internacional
que nos transformará nos párias da Europa, escorraçados por todos os
antigos parceiros e usados pelos espanhois como caixote do lixo da
peninsula.
Como será possivel chegarmos a este ponto? Seremos
assim tão estupidos e ignorantes? Tal como as coisas se têm passado
até hoje, terei infelizmente que concluir que sim. A culpa é nossa e
só nossa. Não queiramos passar as culpas para terceiros como de
costume, dizendo a nós próprios (porque os outros sabem que assim não
foi) que foram os bancos que não deram condições para o
desenvolvimento do país, que os governos foram incompetentes e míopes,
que a UE não nos ajudou bastante e que o "grande capital" não tem
sentimentos nem fronteiras. Quem fez o 25 de abril? Não foram os
militares portugueses? Quem glorificou o maior bandido de todos os
tempos (Álvaro Cunhal) como heroi nacional? Não foram os portugueses?
Quem não conseguiu democraticamente reestruturar um país
desestruturado por um grupo de gangsters que conduziram o PREC? Foram
os politicos portugueses com medo uns dos outros.
Que houve excessos e ladroagem não há duvidas. Mas
em que país isso não acontece? Aqui o que faltou foi metê-los na
prisão. Mas tambem não foi isso que nos desgraçou. O que nos perdeu e
perderá é a nossa congénita tendencia para o deixa-andar, a nossa
lassidão desleixada, a crença na salvação divina, a ignorancia
estrutural e a falta de vontade em sair dela, a eterna desconfiança
nos outros e a irreprimivel inveja impregnada em nós geneticamente,
enfim, o nosso atraso civilizacional que a democracia evidenciou e a
crise revelou.
ALBINO ZEFERINO 18/10/2012
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