Nestes tempos de incerteza em que vivemos tem-se
falado muito das Forças Armadas como garantia da manutenção de uma
situação política e social em que a maioria dos portugueses se sente
confortável e portanto lhe interessa que não venha a ser posta em
causa. Não partilho desta opinião, não tanto por qualquer desejo de
que a actual situação se altere mas sobretudo porque entendo que as
Forças Armadas não devem imiscuir-se na vida politica interna dos
Estados a que pertencem. Infelizmente a nossa história tem sido fértil
em casos onde a ordem estabelecida tem sido coercivamente alterada por
acção das suas Forças Armadas, o que faz crer ao imaginário portugues
que a existencia dessas forças é indispensável para a manutenção da
ordem no território nacional. Nada de mais errado. Como os próprios
militares têm vindo a afirmar, não se deverá confundir Forças Armadas
com Forças de Segurança. É a estas a quem compete manter a ordem
publica e fazer cumprir as leis. Numa democracia evoluida (como é o
caso das democracias europeias) que é condição indispensável para que
um país faça parte da União europeia, as respectivas Forças Armadas
limitam-se a representar o vector coercivo das soberanias nacionais,
apenas dentro dos limites de cada uma dessas soberanias. Do mesmo modo
que o Chefe do Estado, o governo e o Parlamento apenas exercem as
funções soberanas que lhes estão cometidas apenas no âmbito da
soberania nacional que representam. Ou seja, quanto mais ampla for a
soberania, mais latos serão os poderes dos seus orgãos e dos seus
agentes.
Com a intervenção estrangeira em Portugal a
soberania portuguesa ficou limitada. Passamos a ser considerados um
país intervencionado, ou seja,sujeito a uma acção de intervenção
estrangeira (neste caso por parte de tres organizações internacionais
das quais Portugal faz parte). Se a nossa soberania foi limitada (ou
seja não podemos fazer o que nos vai na cabeça sem perguntar) tambem a
acção das Forças Armadas ficou limitada. Mas perguntar-se-á: Limitada
como? Em que medida? Pois limitada na sua capacidade financeira, que é
como quem diz, com menos dinheiro para realizar o cumprimento das suas
missões. E quais são essas missões? Representar coercivamente a
soberania nacional, quer em território nacional (exercitando-se e
desfilando) quer no estrangeiro (participando em exercicios militares
conjuntos ou em acções internacionais de manutenção da paz).
Á medida em que as soberanias nacionais se forem
diluindo numa soberania supranacional como a que a União europeia está
construindo, os orgãos de soberania estaduais vão progressivamente
cedendo aos órgãos comunitários os seus poderes soberanos (ex. moeda,
politicas comuns, representação externa, defesa, etc.) integrando os
seus agentes nesses orgãos supranacionais que são constituidos por
nacionais dos Estados Membros. A instituição militar portuguesa deverá
assim, a meu ver, ir preparando os seus efectivos para este novo
desiderato, como forma de acompanhar o esforço da sociedade civil na
busca de um melhor modo de vida integrado num espaço politico maior,
mais forte e produtivo, onde a acção das Forças Armadas possa ser mais
util e produtiva.
23 Outubro 2012
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