domingo, 7 de outubro de 2012

SINAIS DE FUMO

Depois da tempestade vem a bonança. Ao contrário 
do que muitos dos nossos arautos da desgraça (quais abutres escondidos 
aguardando os despojos da guerra) para aí apregoam, de que o governo 
está por dias e que já não tem condições de continuar em funções, tudo 
indica que continuará pelo menos até existir melhor alternativa. 
Efectivamente, não se vislumbra quem possa com vantagem para os 
portugueses substituir este governo, por muito contestado que tenha 
sido e que eventualmente continue a ser. Os socialistas já anunciaram 
que não estão interessados em ir para o governo já (ou seja, enquanto 
as dificuldades não cessarem) e Cavaco tambem já disse que só 
interromperia esta legislatura se o obrigarem a isso. Por seu turno, 
Portas acaba de anunciar a sua fé na actual coligação de que faz 
parte, o que afasta à partida (e até à próxima crise) um 
desmembramento governativo a curto prazo. Quanto aos partidos de 
esquerda, vão-se distraindo com os congressos das alternativas, 
sublimando (eu diria melhor, recalcando) as suas frustrações de 
classe. 
Porque será então que esta crise anunciada pelas 
manifestações populares não se concretizou? Eu diria que por duas 
ordens de razões. A primeira, porque afinal se verificou que o 
legitimo descontentamento demonstrado por alguns jovens desesperados 
foi ilegitimamente aproveitado pelas esquerdas organizadas (PC e 
Inter) transformando uma simples arruada numa gigantesca manifestação 
(articulada com as estruturas provinciais de outras capitais de 
distrito) conferindo-lhe uma dimensão nacional que inicialmente não 
tinha e escondendo o enquadramento politico e logistico que os 
profissionais das manifestações subrepticiamente lhe prestaram. Em 
segundo lugar, porque uma manifestação desta dimensão mostrada e 
comentada ad nauseam pelas televisões portuguesas, transmitiu 
erradamente às pessoas o nascimento de um principio de sublevação 
nacional ao qual ninguem podia ficar indiferente. 
Ficará assim governo liberto de constrangimentos 
sociais e politicos para prosseguir pacatamente o rumo que tem 
imprimido às reformas que se propôs fazer? Apesar de tudo, não creio 
que isso aconteça. Esta crise vai determinar uma reflexão no processo 
reformador que se consubstanciará numa remodelação ministerial, 
adaptando a estrutura do governo ao resultado dessa reflexão. Para 
isso o governo vai reunir-se amanhã informalmente (como em Bruxelas as 
reuniões informais são geralmente mais importantes do que as de 
rotina). A esta reflexão governativa não escapará certamente uma nova 
estratégia de abordagem das instituições que nos apoiam 
financeiramente, eventualmente associando-nos aos outros países com 
problemas semelhantes aos nossos (necessidade de reformas estruturais, 
aumento do desemprego, produção incipiente, dificuldade em conter o 
gasto publico, necessidade de privatizações macissas, excesso de 
funcionalismo e de empresas publicas, etc.etc.) para o estabelecimento 
de estratégias negociais comuns e medidas tambem semelhantes, que 
permitam ajudar a intensificar os esforços dos Estados membros da UE 
no sentido do estabelecimento de uma União monetária e de bases para a 
criação de uma politica fiscal e orçamental comum. 

ALBINO ZEFERINO 
6/10/2012 

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