Depois da tempestade vem a bonança. Ao contrário
do que muitos dos nossos arautos da desgraça (quais abutres escondidos
aguardando os despojos da guerra) para aí apregoam, de que o governo
está por dias e que já não tem condições de continuar em funções, tudo
indica que continuará pelo menos até existir melhor alternativa.
Efectivamente, não se vislumbra quem possa com vantagem para os
portugueses substituir este governo, por muito contestado que tenha
sido e que eventualmente continue a ser. Os socialistas já anunciaram
que não estão interessados em ir para o governo já (ou seja, enquanto
as dificuldades não cessarem) e Cavaco tambem já disse que só
interromperia esta legislatura se o obrigarem a isso. Por seu turno,
Portas acaba de anunciar a sua fé na actual coligação de que faz
parte, o que afasta à partida (e até à próxima crise) um
desmembramento governativo a curto prazo. Quanto aos partidos de
esquerda, vão-se distraindo com os congressos das alternativas,
sublimando (eu diria melhor, recalcando) as suas frustrações de
classe.
Porque será então que esta crise anunciada pelas
manifestações populares não se concretizou? Eu diria que por duas
ordens de razões. A primeira, porque afinal se verificou que o
legitimo descontentamento demonstrado por alguns jovens desesperados
foi ilegitimamente aproveitado pelas esquerdas organizadas (PC e
Inter) transformando uma simples arruada numa gigantesca manifestação
(articulada com as estruturas provinciais de outras capitais de
distrito) conferindo-lhe uma dimensão nacional que inicialmente não
tinha e escondendo o enquadramento politico e logistico que os
profissionais das manifestações subrepticiamente lhe prestaram. Em
segundo lugar, porque uma manifestação desta dimensão mostrada e
comentada ad nauseam pelas televisões portuguesas, transmitiu
erradamente às pessoas o nascimento de um principio de sublevação
nacional ao qual ninguem podia ficar indiferente.
Ficará assim governo liberto de constrangimentos
sociais e politicos para prosseguir pacatamente o rumo que tem
imprimido às reformas que se propôs fazer? Apesar de tudo, não creio
que isso aconteça. Esta crise vai determinar uma reflexão no processo
reformador que se consubstanciará numa remodelação ministerial,
adaptando a estrutura do governo ao resultado dessa reflexão. Para
isso o governo vai reunir-se amanhã informalmente (como em Bruxelas as
reuniões informais são geralmente mais importantes do que as de
rotina). A esta reflexão governativa não escapará certamente uma nova
estratégia de abordagem das instituições que nos apoiam
financeiramente, eventualmente associando-nos aos outros países com
problemas semelhantes aos nossos (necessidade de reformas estruturais,
aumento do desemprego, produção incipiente, dificuldade em conter o
gasto publico, necessidade de privatizações macissas, excesso de
funcionalismo e de empresas publicas, etc.etc.) para o estabelecimento
de estratégias negociais comuns e medidas tambem semelhantes, que
permitam ajudar a intensificar os esforços dos Estados membros da UE
no sentido do estabelecimento de uma União monetária e de bases para a
criação de uma politica fiscal e orçamental comum.
ALBINO ZEFERINO
6/10/2012
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