Não sei porquê mas palpita-me que este orçamento
nunca entrará em vigor. Apresentado sem pompa nem circunstancia pela
calada da noite a uma discreta e timida presidente da AR rodeada de
barulhentos manifestantes reunidos à porta do Parlamento, o
mediatizado documento parece destinado a morrer mesmo antes do seu
nascimento. Ferozes opositores de dentro da coligação já se
manifestaram no anonimato dos facebooks contra o nascimento do
nado-morto e fora dela preparam-se ruidosas manifestações contra o que
chamam de perigosa escalada da direita contra as conquistas de uma
revolução da qual já ninguem se lembra, nem lhe interessa porque se
deu.
Sem alternativa credivel aceitável pelos nossos
protectores, a não entrada em vigor do orçamento para 2013 vai
forçosamente determinar uma suspensão da ajuda financeira externa da
qual necessitamos para manter a normalidade das instituições em que
vivemos. Não será apenas como alguns curiosos afirmam uma vida em
duodécimos que nos espera. Não havendo orçamento aprovado não há
dinheiro para os duodecimos e entraremos no caos. Perseguidos pela
fome, pelos apagões, pela desvalorização dos salários, pela
paralização dos transportes e pelo medo uns dos outros, os portugueses
cedo vão lastimar-se da sua sempre tardia compreensão das realidades
quando começarem a sentir na pele as verdadeiras carências materiais
de que vão ser vitimas.
É precisamente por estas razões que os
estrangeiros não acreditam em nós, fazendo-nos crer com o seu cinismo
de que Portugal faz muita falta à Europa e ao seu euro. Sem nós o euro
e a Europa subsistirão, mas nós sem eles não. Enquanto a maioria do
iletrado povo portugues não entender que o mundo não gira à volta de
Portugal e que mesmo a lingua portuguesa nos está a ser roubada sem
vergonha pelos brasileiros, nunca mais nos endireitaremos, preocupados
mais com a conservação de uns direitos chamados adquiridos mas que já
desbaratámos há muito tempo, do que com a preservação de uma
identidade nacional que nos mantenha no concerto das nações
civilizadas, mesmo que isso exija um período mais ou menos longo de
sacrificios. Sacrifiquemo-nos pelo futuro dos nossos filhos, senão não
seremos dignos dos nossos pais que por nós tantos sacrificios
suportaram.
ALBINO ZEFERINO
16/10/2012
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