domingo, 21 de outubro de 2012

PORTUGAL E A EUROPA DAS REGIÕES

Aproximando-se o final da crise financeira 
europeia começam a despontar sinais de como ficará a Europa 
comunitária (e não só) no rescaldo deste fortissimo abanão que ameaçou 
a estabilidade do euro e os principios onde este assentava. Duas 
consequencias da maior magnitude se poderão desde já adivinhar: a 
primeira é a criação de uma união bancária que harmonize e fiscalize 
os procedimentos dos bancos que actuam na UE (principais causadores da 
crise) e a segunda é a tendencia separatista de algumas regiões da 
Europa. Dando como adquirida nos seus méritos a primeira 
consequencia, vamos analisar a segunda com um pouco mais de detalhe. 
Animadas pela constatação da incapacidade de 
alguns governos centrais em reagir adequadamente à crise, algumas 
populações autonomistas ameaçaram abertamente desligar-se dos Estados 
onde estão inseridas, reclamando algumas inclusivamente a sua 
independencia. Refiro-me não apenas à Catalunha, ao País Basco e à 
Galiza , mas tambem à Escócia e às regiões flamenga e valã que 
pretendem substituir-se à Bélgica. A recente guerra na ex-Jugoslávia e 
a existencia de um mosaico de povos distintos que proliferam na Europa 
central e do Leste não auguram tambem acalmia neste particular. Creio 
assim que a Europa das Regiões irá ganhar novo folgo com o consequente 
enfraquecimento e até eventual desaparecimento de alguns dos actuais 
Estados. O poder popular concentrar-se-á na base nas regiões onde 
vive, trabalha e vota e no topo nas instituições comunitárias que 
forçosamente se tornarão cada vez mais democráticas (a eleição do 
presidente da Comissão parece-me incontornável, bem como o sistema de 
listas para a eleição dos deputados europeus). 
Como se passarão as coisas aqui na Peninsula 
ibérica? Entalado entre a recusa em pedir a intervenção estrangeira 
para a solução dos seus problemas e os pedidos de apoio financeiro 
apresentados por algumas das autonomias que reclamam maior 
independencia do Estado central, o governo espanhol não terá outro 
remédio senão engolir o seu visceral orgulho nacional e submeter-se a 
um plano da troika como outros países já o fizeram para que os 
mecanismos comunitários possam abrir os cordões à bolsa e inundarem o 
mercado espanhol dos euros que lhes fazem falta. Simultaneamente 
Portugal atravessa nesta altura um período menos feliz no caminho da 
recuperação economica e financeira que deixa alguns observadores mais 
atentos com duvidas quanto à capacidade governativa em conseguir 
reformar o país. As oposições reclamam mais tempo e mais dinheiro como 
se fossem apenas esses os pressupostos para a regeneração do país. 
Não excluo assim que, uma vez formalizado o 
pedido espanhol de apoio à UE, este venha a ser atribuido na condição 
de ser distribuido racionalmente pelas várias comunidades autónomas, 
cujos governos muito contribuiram para o descalabro financeiro do 
Estado com as suas politicas expansionistas e descoordenadas. Poderá 
acontecer que, na sua visão de conjunto, as autoridades comunitárias 
se lembrem de incluir na ajuda espanhola algum dinheiro extra 
destinado às politicas inter-regionais, incluindo Portugal. E assim, 
através de uma ajuda partilhada, as regiões fronteiriças espanholas 
contribuiriam para apoiar as instituições portuguesas da raia (como já 
hoje informalmente acontece - vide hospital Infanta Cristina em 
Badajoz e o Centro de saúde de Valença, p.ex.). A acontecer isto vindo 
de Bruxelas seria o primeiro passo para a criação de politicas 
ibericas compartilhadas através de financiamentos comuns. A co-gestão 
de equipamentos comuns (p.ex. Alqueva, ou as águas fluviais) ou o 
estabelecimento de regras de actuação comuns a várias áreas espanholas 
e portuguesas dariam certamente lugar à interligação politica entre 
regiões espanholas e portuguesas. Não me admiraria que dentro de 
alguns anos (ou meses) as CCR fossem incorporadas nas regiões 
autónomas espanholas com quem fazem fronteira, dando lugar a novas 
regiões europeias mais fortes e mais independentes dos poderes dos 
respectivos Estados centrais, que nalguns casos tenderiam até a 
desaparecer. 

ALBINO 
ZEFERINO 20/10/2012 

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