segunda-feira, 30 de maio de 2011

A QUADRATURA DO CIRCULO

A oito dias das eleições já se pode fazer uma razoável previsão de quais vão ser os resultados. Conforme as sondagens têm repetidamente indicado nos últimos dias, os dois grandes partidos mantêm-se empatados, com o CDS em 3º lugar e os outros dois da esquerda em queda. Daqui resulta que a única duvida que existirá será a de saber se será o PS ou o PSD a formar governo (naturalmente coligado com o CDS, uma vez que nenhum dos grandes terá maioria absoluta por si só). Não creio que quer o PS quer o PSD estejam dispostos a formar a desejada grande coligação em caso de não ficarem em 1º lugar (embora na presente situação a lógica a isso os empurrasse).  Por muito que Cavaco insista, o partido perdedor não vai deixar passar a oportunidade de capitalizar a seu favor o descontentamento popular que necessariamente surgirá da aplicação das duras medidas previstas no pacto FMI/UE, olhando para o futuro próximo. Ficaremos assim numa situação semelhante à que vive a Grécia com uma maioria parlamentar insuficiente para conseguir gerar os consensos constitucionais necessários às indispensáveis reformas para cumprirmos o estabelecido no pacto. Diria mais. Na provável hipótese de ser o PSD a ficar à frente (e a coligar-se com o CDS para obter a maioria exigida por Cavaco) o PS de Sócrates virará à esquerda (com ou sem ele) renegando o apoio ao pacto e tentando capitalizar o descontentamento popular a seu favor. A recuperação dos votos perdidos nas ultimas eleições de 2009 a favor do BE a isso sugerem.
         A ser assim, o país ficará dividido ao meio com uma direita frágil e pouco coerente, a tentar aplicar um programa de governo exigente e sem alternativas, monitorizada pelos nossos credores, refém de um pacto imposto por eles e sem o necessário apoio popular e parlamentar para o implementar conforme era suposição dos seus autores. Por seu turno, criar-se-á do outro lado do expectro politico a tão desejada maioria de esquerda procurada por Alegre e seus capangas que, sob a bandeira do nacionalismo bacoco, se arvorará em defensora dos valores pátrios contra o soez ataque estrangeiro. A receita é conhecida e normalmente bem aceite pelas mentes simples dos orgulhosos e empedrenidos lusitanos.
 
                                                                ALBINO ZEFERINO  28/5/2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

UMA QUESTÃO DE RITMO

 Passado quase um mes da assinatura do memorando de entendimento com o FMI/UE, parece que os portugueses estão finalmente começando a interiorizar a magnitude do sinistro em que estão envolvidos. Mais vale tarde do que nunca, diz o ditado popular. Como tudo o que se passa em Portugal, é uma questão de ritmo o que está em causa. O nosso é lento, descompassado e trôpego. O problema é que os nossos parceiros não dão muitas mostras de se acomodar aos nossos ritmos sulistas. Veja-se como têm reagido à tragédia grega. Se não nos despacharmos com as eleições que inoportunamente nos lembrámos de introduzir neste processo já complicado por si, arriscamo-nos a sofrer da mesma receita que os credores preparam para a Grécia: a entrega pura e simples dos activos empresariais do Estado aos credores por intermédio de uma holding europeia criada especialmente para se assegurar da correcta gestão desses activos cuja titularidade passaria para os credores como compensação pelos créditos mal-parados. Já se falava desta solução há tempos em Bruxelas mas só ontem veio publicada no Finantial Times o que lhe confere um grau de probabilidade aterrador.
         Se não nos despacharmos a constituir um novo governo que dê inicio a tempo à aplicação das medidas de salvamento da economia gizadas para nós pelos nossos credores, não nos admiremos que nos empurrem para o lado vindo outros ocupar o lugar dos nossos decisores, deixando-nos a discutir alegre e inconscientemente quais os melhores formalismos constitucionais a adoptar para a constituição de um governo estável, seguro e forte (ah, ah, ah) que duma penada ponha os madraços dos portugas a trabalhar como chineses (antes dizia-se como mouros) para conseguirem atingir as metas definidas por outros para a nossa recuperação ao ritmo desejado pelos nossos credores. Que Nossa Senhora de Fátima nos valha.
 
                                                                       ALBINO ZEFERINO  26/5/2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

OS TRABALHOS DE HÉRCULES

   A realização de eleições intercalares provocadas pela demissão de Sócrates veio perturbar a necessária reflexão popular que deveria resultar do enorme choque que constituiu a imposição externa das medidas politicas e economicas que obrigatoriamente teremos que implementar, independentemente do governo que sair das eleições ou da nova composição do Parlamento. Quero com isto dizer, que fomos de novo enganados pelo grande enganador do povo portugues que é eximio nas manobras de diversão e nos embustes politicos. Para se safar dos trabalhos que a implementação das tais medidas que nos foram impostas por terceiros exigirão, Sócrates não hesitou em lançar o país numa campanha eleitoral inutil e escusada, atrasando em mais de dois meses a indispensável preparação do país para a aceitação inevitável das reformas que terão que ser feitas. Só depois do novo governo formado é que o povão vai realizar o molho de bróculos onde está metido e da dificuldade extrema em sair dele sem grandes sacrificios. O ambiente politicamente tenso que a campanha eleitoral impõe não é propicio à necessária reflexão popular que permita uma clara e madura separação de águas entre aqueles que verdadeiramente desejam viver em liberdade para recuperar o equilibrio do sistema e aqueloutros que sempre pugnaram por um Estado protector e condutor, falsamente igualitário e enganosamente justo.
          Analisando "a voil d´oiseau" as medidas de politica económica e financeira contidas no memorando do FMI/UE, constata-se:
          1. A criação de um Conselho de Finanças Públicas independente para avaliar a performance da estratégia fiscal;
          2. Um exame detalhado das PPP no sentido da renegociação daquelas onde o Estado ofereceu garantias exageradas aos privados;
          3. A troca de receitas provenientes da Taxa Social Única por receitas provenientes do aumento do IVA com efeito neutro no orçamento, no sentido do aumento da competitividade das empresas;
          4. A revisão das taxas moderadoras na Saúde indexando-as à inflacção; a redução dos subsistemas publicos com o objectivo de que 50% dos respectivos custos sejam suportados pelos seus beneficiários e fixação de preços máximos nos medicamentos genéricos;
          5. A diminuição dos custos do trabalho, a redução das horas extraordinárias, o congelamento do salário minimo e dos aumentos salariais dos funcionários públicos, a redução das indemnizações por despedimento e a duração do subsidio de desemprego e sobretudo a alteração dos mecanismos de determinação dos salários;
          6. A garantia da independencia das autoridades reguladoras e a introdução de um mecanismo de garantia do financiamento dos bancos;
          7. O aumento da concorrencia e eficiencia do sector energético como factor de competitividade da economia nos mercados internacionais e aumento da receita fiscal a partir das vendas do sector; aprofundamento do mercado ibérico do gás;
          8. A garantia do bom funcionamento do regulador das telecomunicações ANACOM e a remoção das barreiras à concorrencia em vários segmentos das telecomunicações;
          9. A redução do pessoal das camaras municipais; a reorganização administrativa do território; a diminuição do numero de municipios e de freguesias; a eliminação de sobreposição de competencias entre os governos locais e central ;
         10. A reforma em grande escala do sistema judicial portugues contemplando a reorganização do mapa judiciário, a melhoria na gestão dos tribunais, a simplificação do processo cível, o compromisso de acabar com as pendências, etc.
          A implementação de algumas destas politicas e medidas vai necessariamente exigir alterações constitucionais que só poderão ser concretizadas com o apoio de maiorias alargadas que ultrapassem as eventuais coligações governativas que se formem ou os acordos de incidência parlamentar que se negoceiem. Nenhum partido estará disposto a perder base de apoio popular a troco de colaboração ou apoio a medidas que sabe serem impopulares. O que hoje se passa na Grécia (governada por socialistas) é sintomático do que estou aqui dizendo. Sem uma acção eficaz da parte do primeiro magistrado da Nação (é para situações destas que ele lá está) não será, a meu ver, possivel chegar-se a situações de consenso constructivas que permitam que Portugal saia desta grave situação em que está metido, conservando a sua independencia e soberania, pela qual muitos antes de nós deram a sua vida, os seus bens e a sua liberdade.
 
                                              ALBINO ZEFERINO   24/5/2011

domingo, 22 de maio de 2011

PORTUGAL E O FUTURO - 2ª PARTE

Já há tempos falámos do futuro de Portugal no limiar deste século, prenuncio de uma época nova, com regras e estruturas novas, novas mentalidades, novos problemas e novas preocupações, mas tambem com novas oportunidades e com novos horizontes.  Portugal é um país velho de quase 900 anos (não há no mundo outro estruturalmente tão velho) com mentalidade velha, regras e principios de vida velhos, pessoas velhas (como diria um amigo meu, mais antigas do que velhas) e jovens igualmente velhos. A circunstancia de nos encontrarmos mais longe do que outros dos centros do cosmopolitanismo urbano e cultural faz com que as mentalidades dos portugueses evoluam a um ritmo mais lento e menos profundo do que as de outros. Por outro lado, o periferismo a que a revolução industrial europeia do séc. XIX nos votou tambem isolou os portugueses dos beneficios da civilização que a industrialização trouxe aos países da Europa central, empurrando as nossas atenções mais para sul onde outros interesses mais acessiveis nos chamavam. Entaládos entre a grande Espanha, com as suas guerras particulares e alvo de cobiças que Portugal nunca suscitou, e o mar aberto, os portugueses sempre se mantiveram culturalmente distantes e cada vez mais afastados dos verdadeiros centros de civilização que fazem mover o mundo e as mentalidades dos homens.
          Com o 25 de Abril parecia a alguns (muitos deles amigos estrangeiros) que se abria a Portugal um novo caminho que permitiria mais rapidamente recuperar o atraso estrutural de que historicamente padeciamos, permitindo que nos pudessemos finalmente inserir de igual para igual no mundo a que historicamente pertenciamos. Foi assim que sem hesitações fomos entusiasticamente aceites na Europa institucionalizada e até anos depois convidados a pertencer ao excusivo clube do euro, ensaio arriscado de uma integração ousada, cujo objectivo era servir de motor a outras formas de integração europeia. Só que com a crise mundial de 2008 todo este processo ficou posto em causa e Portugal (ainda débil e fraca) não conseguiu aguentar-se nas canetas e caiu. E agora o que vamos fazer? Como sairemos duma situação de onde não podemos voltar para trás, mas que para avançarmos teremos que correr mais do que aqueles que sempre estiveram à nossa frente. Tarefa ciclópica de dificl concretização, direi eu. Que consequencias nos esperam se, como todos já prevêm, não conseguirmos acompanhar o ritmo de desenvolvimento que agora nos foi imposto?
          Como em todas as épocas e em todas as situações, os vencidos têm que se submeter aos vencedores. Mas seremos nós os vencidos? E quem nos venceu?  Se a União europeia serviu até hoje para alguma coisa foi certamente para evitar que novas guerras se declarassem entre Estados europeus. As questões entre europeus resolvem-se hoje em Bruxelas dentro de salões com ar condicionado e boa comida, mas as consequencias das decisões tomadas não têm recurso (até porque nós tambem participamos delas). Enquanto não provarmos aos nossos credores de que seremos capazes de pagar as nossas dividas, teremos que nos submeter aos seus interesses e directivas. É isto o fundamento do que ficou estipulado no plano de resgate do FMI/UE. Será uma situação idêntica áquela em que os vencidos numa guerra ficam quando os vencedores lhes impõem indemnizações de guerra.
          E se não fizermos como nos mandaram? Então se assim fôr não estranhemos que outros venham tomar conta de nós directamente. Já passámos por essa vergonhosa experiência quando o general ingles Beresford foi nomeado pelo governo ingles como primeiro ministro de Portugal na sequência da expulsão dos franceses de Napoleão de Portugal pelos ingleses vencedores. Agora que já não há guerras na Europa e que quem manda são os alemães, o que presumivelmente irá acontecer se não cumprirmos as determinações que nos impuseram, é entregarem as nossas empresas de distribuição de serviços aos que mais dinheiro oferecerem por elas para depois recuperarem o investimento á custa dos portugueses que lhes pagam os serviços. No principio do século passado depois da débacle da 1ª Republica, a generalidade dos serviços publicos portugueses (telefones, água, gás e electricidade, caminhos de ferro, transportes publicos, etc. etc. estavam nas mãos de companhias inglesas). É provável que a situação se repita, só que serão maioritariamente espanhois os donos das empresas fornecedoras. Depois, consoante a evolução da situação em Espanha, Portugal será mais ou menos integrado no espaço económico espanhol. Se incorporando-se sectorialmente nas autonomias, se constituindo uma autonomia mais, se ficando formalmente independente (como aconteceu sob Filipe II em 1580) mas económica e estrategicamente integrada no espaço espanhol, não saberei por enquanto prever. Para isso haverá sobretudo que atender ao interesse espanhol do momento.
 
                             ALBINO ZEFERINO   22/5/2011

CRÓNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA

  Após sete vidas vividas a dar cabo da vida dos outros, parece que finalmente Sócrates vai morrer (politicamente, entenda-se). O decisivo frente a frente televisivo de ontem não deixou quaisquer duvidas aos esclarecidos comentadores politicos do burgo, de que a época sócretina chegou ao fim. Confesso que para mim (simples observador dos hábitos e costumes da vida lusitana) a evidência deste facto não me pareceu tão óbvia. A determinação de Sócrates na defesa das suas estafadas e enganosas teses foi tão convincente para os pobres espiritos dos  portugueses, que não me atreveria a subscrever tão depressa o próximo desaparecimento do ainda primeiro ministro (embora demissionário) da cena política lusitana. Contudo, a acreditar na omnisciencia dos comentadores televisivos, as favas estão contadas e Passos Coelho e o seu PSD estarão ao leme deste pobre e velho país dentro de duas escassas semanas. Não que não mereçam, nem que não estejam preparados para tal (como certas mentes preversas têm apregoado invejosamente por aí) mas porque esta coisa dos votos nem sempre resulta como parece que devia resultar.
          Nas diferentes sondagens com que os habituais opinion makers inundam os pobres espiritos lusitanos, PS e PSD continuam empatados, não se vislumbrando a vaga de fundo que arrasaria (qual tsunami regenerador) Sócrates e o seu PS da cena politica, para dar lugar ao novo super homem transfigurado em bétinho de Massamá. A aparente transferencia do voto socialista do estafado Bloco de Esquerda (experiencia falhada de um novo "verdadeiro" partido socialista que se desmoronou com a derrota de Alegre nas ultimas presidenciais) para o PS de Sócrates, veio tirar a força para que a tal vaga de fundo laranjinha se formasse. Por outro lado, a falta de carisma do novo lider do PSD tem provocado uma fuga macissa de intenções de voto para o mais convincente CDS de Portas (que até já se considera alternativa a Passos para a chefia da direita em Portugal). Por estas razões, parece-me ainda prematuro presumir que a morte politica do actual primeiro ministro está iminente pois, a meu ver, o que se perfila com mais verosimilhança será uma coligação entre Sócrates e Portas deixando Passos (o eterno 2º) a aguardar melhor ocasião. Será porém esta a melhor solução para Portugal?  Tenho duvidas. Mas em democracia o povo é quem mais ordena.
 
                                               ALBINO ZEFERINO   21/5/2011

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ALEA JACTA EST

   Com o programa de salvamento assinado, pouco mais fica para ser decidido do que a respectiva execução pelo futuro governo a sair das eleições do próximo dia 5 de junho.  O próximo Parlamento ficará dividido entre os apoiantes do programa e aqueles que não o aceitam.  Tomando como base as recentes sondagens de opinião, é provável que os apoiantes do programa (PS, PSD e CDS) fiquem em maioria relativamente áqueles que o rejeitam (PCP e BE).
          A grande questão será, como se tem dito, o de saber até que ponto o futuro governo terá força suficiente para fazer executar tão exigente programa, que irá impôr sacrificios ao povo portugues e baixar-lhe o nível de vida durante os próximos tres anos.  E então que governo poderá ser esse?  Na provável impossibilidade dos tres partidos apoiantes do programa de salvamento se entenderem numa fórmula governativa comum, o que muito provavelmente acontecerá será a formação de um governo de coligação entre um dos dois maiores partidos do arco governativo (PS ou PSD) e o CDS.  Mas como um tal governo (embora matematicamente maioritário) não será suficientemente forte para impôr as profundas reformas económicas e sociais previstas no plano, o partido que ficar de fora do governo (o PS ou o PSD) terá que celebrar um acordo parlamentar onde se comprometa a apoiar a execução das tais reformas (algumas delas exigindo uma maioria de 2/3 dos votos dos deputados).  Esta circunstância determinará o futuro a médio prazo dos partidos apoiantes do plano de salvamento. Será sempre mais fácil justificar um apoio patriótico a medidas impopulares que não são suas, na base de compromissos parlamentares prévios, do que justificar a autoria dessas mesmas medidas enquanto responsável pelo governo.
          Nesta conformidade, o CDS (enquanto provável terceiro partido do arco governativo) terá sempre assento no futuro governo, para onde Paulo Portas (que ambiciona os Estrangeiros) se fará acompanhar de Teggy e/ou Cristas (consoante o numero de ministérios que caiba ao CDS em função do seu score eleitoral).  Se o parceiro fôr o PSD, o nº 2 será Catroga (nas Finanças).  Caso Sócrates volte a ganhar, o seu nº 2 será Ferro (tambem nas Finanças, que será o ministério controlador da execução do plano e principal interlocutor da troika). O outro partido que ficar de fora do governo limitar-se-á a apoiar parlamentarmente as medidas avulsas constantres do programa, ficando de mãos livres para criticar o governo nas suas estratégias desenvolvementistas.
          Se não for assim, será muito parecido.  A sorte está lançada e pouco mais haverá que fazer para salvar Portugal da bancarrota. 
 
                                                               ALBINO ZEFERINO 14/5/2011       

quarta-feira, 11 de maio de 2011

QUANTO CUSTOU SÓCRATES A PORTUGAL?

     Não se pense que a visitinha da troika a Portugal foi de borla. Acostumados às borlas, os portugas julgam que isto da crise é coisa de políticos e que a inconsciente reeleição do alucinado Sócrates há um ano atrás não vai trazer enormes custos à nossa triste vida.
          O que impediu até agora o enterro definitivo deste jardim à beira-mar plantado foi o facto de Portugal fazer parte da zona euro (graças ao patois do Guterres) e do nosso peso no euro ser irrelevante (o que ajudou ao patois do Guterres). Uma vez inseridos na zona euro, a nossa irrelevancia não nos permite contudo fazer os disparaters que nos venham à cabeça sem que as suas consequencias não se venham a reflectir na estrutura da moeda comum europeia. Daí que os nossos parceios do euro (finlandeses incluidos) não tenham outro remédio do que ajudar-nos a sair desta embrulhada em que o Sócrates nos meteu, sob pena do euro se desmoronar e atrás dele a própria União europeia.
          A ajuda não nos vai portanto sair de borla, como os fundos perdidos comunitários ou as esmolas a que regularmente nos habituamos a pedir (desde o liberalismo do sec XIX que vivemos de esmolas). A coberto de um plano de ajuda que já estava elaborado há meses (daí a rapidez da sua conclusão) vamos receber 80 mil milhões de euros (é muito dinheiro acreditem) a troco de prometermos entrar na linha (leia-se acabar com os resquicios preversos do 25 de Abril) e cedermos em compensação algumas (se não todas) das joias da coroa que ainda nos restam.  Os 80 mil milhões correspondem ao valor dos emprestimos (mais juros) que os nossos credores nos fizeram e as joias da coroa ao resto das dividas que contraimos entretanto. 
          Parece que a escolha das empresas publicas portuguesas a privatizar resultou de conversas entre os nossos principais credores (ao estilo do Congresso de Viena do sec. XIX  onde as nossas colónias de então foram divididas entre os nossos credores) tendo-se estes perfilado da seguinte maneira: a EDP e a REN para os espanhois da Iberdrola e da Endesa (para finalmente se constituir o mercado ibérico da electricidade; a TAP para os alemães da Lufthansa (que anseiam os direitos de tráfego para África e para o Brasil); as Àguas de Portugal para os franceses da Lyonnaise des Eaux (que já estão em Portugal); a REFER e a ANA para os espanhóis (que assim passam a controlar as redes de transporte nacionais); a Caixa geral de Depósitos (mais tarde) para aumentar a percentagem do controle espanhol do mercado financeiro portugues e a GALP para os italianos da ENI (que já controlam 30% da empresa portuguesa).
          Como se vê, Sócrates custou-nos 80 mil milhões de euros mais a maioria dos activos soberanos do Estado portugues. Será que ainda não é tempo de o mandar pelo cano abaixo?
 
                                    ALBINO ZEFERINO 11/5/2011

terça-feira, 10 de maio de 2011

O REI LEÃO - CONCLUSÕES

  Tal como acontece com os animais irracionais, o Homem está organizado em grupos sociais. E quanto mais elevado é o seu nível intelectual, mais sofisticada é a organização do seu grupo social. Nos animais ocorre precisamente o mesmo. O leão, que beneficia de um alto nível intelectual em comparação com os outros animais da sua espécie (não é apenas pelas suas qualidades físicas que é considerado o rei da selva), está organizado socialmente de uma forma inteligente e digna, embora simples e natural. As relações hierárquicas são prevalecentes, mas não incontestadas. Enquanto duram são absolutas, mas não despóticas. A divisão do trabalho é natural e obedece a regras naturais (as fêmeas caçam porque são mais ágeis e mais matreiras) e os leões mandam porque são mais fortes e disputam a liderança entre si regularmente. Entre os homens a organização das sociedades obedece igualmente a regras infelizmente cada vez menos simples e mais influenciadas por factores exógenos, que desvirtuam a simplicidade da natureza humana e complicam o relacionamento entre os homens. Por vezes apetece perguntar para que serve a inveja, o ódio, a cobiça, a mentira, a vingança e outras caracteristicas humanas que nos distinguem dos outros animais.
 
                                                     ALBINO  ZEFERINO  10/5/2011

sábado, 7 de maio de 2011

AGORA É QUE VÃO SER ELAS

Não se pense que com a divulgação das medidas que nos vão ser impostas por Bruxelas o caso da intervenção externa em Portugal terminou. Sem que demos garantias de execução rigorosa do plano de salvamento elaborado pela chamada troika não veremos um centimo dos prometidos milhões. Veja-se a Grécia. As constantes reivindicações populares às medidas draconianas impostas pela UE, FMI e BCE, muitas das vezes apoiadas pelo próprio governo grego, têm impedido que o dinheiro do empréstimo prometido à Grécia flua ao ritmo previsto, com os inevitáveis constrangimentos para a recuperação económica e financeira do país. Na tentativa de ultrapassar estes obstáculos, o governo grego solicitou a Bruxelas que fosse considerada a reestruturação da sua dívida. A resposta negativa da Europa a este pedido alternativo grego não pressagia boas-vontades dos credores, antes sugere pelo contrário o risco de ruptura da colaboração, que em ultima análise poderá passar pela exclusão da Grécia da zona euro.
          O mesmo se poderá passar em Portugal se porventura o ranger de dentes próprio da situação de submissão externa em que nos encontramos se transformar (como começa a verificar-se na Grécia) numa atitude generalizada de rejeição do cumprimento das condições impostas para o nosso salvamento. Ainda não há governo em Portugal e já se começam a ouvir vozes críticas em relação a certas medidas que beliscam a autoridade de alguns baronetes da política. PS e PSD já anunciaram pela boca dos respectivos lideres que não concordavam com a dimiunuição do numero de autarquias no país, nem com a redução do pessoal autárquico. As greves e manifestações anunciadas pelas frentes esquerdistas para demonstração da indignação popular à aplicação das medidas constantes do plano de salvamento nacional,  tambem não auguram a tranquilidade necessária para pôr em marcha a recuperação económico-financeira do país. 
          Tenhamos juízo e não percamos o nosso tempo em discussões estéreis à volta de programas de governo inexequiveis. O indispensável já foi determinado pelos nossos credores (de resto com um detalhe extraordinário, o que revela a pouca confiança que em nós depositam). Concentremo-nos em explicar aos eleitores (e aos credores) de que modo os vários partidos em liça propõem executar o plano, ou seja como vão utilizar a escassissima margem de manobra que a troika lhes deixou para cumprirem os objectivos enunciados dentro dos prazos previstos. Senão arriscamo-nos a ser empurrados para fora do euro (não antevejo outra medida correctiva) com o pretexto de que a nossa pouca vontade em arrumar as nossas contas estará a prejudicar a estabilidade da moeda comum europeia. Se assim fôr a desgraça será, então sim, total e definitiva, com as poupanças e os activos a passarem para metade do seu valor e as dívidas e os juros a valerem o dobro. Eu diria que, face a este enorme risco, mais vale ir esquecendo a democracia no seu estado puro e ir pensando em intervenções mais musculadas e enégicas que convençam os recalcitrantes a enveredar por caminhos mais conformados mas tambem mais seguros.
 
                                      ALBINO ZEFERINO   7/5/2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O FIM DO 25 DE ABRIL

      Foi preciso tres chefes de divisão virem a Portugal para animar a malta (como dizia o Zeca Afonso) e arrumar com as tristes consequencias do golpe militar que derrubou o salazarismo e foi por sua vez comido pelo comunismo. Napoleão ainda nos mandou tres generais, mas para a União europeia tres chefes de divisão bastaram. Para quem é, bacalhau basta, diz o povo.
Como se a vergonha de não termos conseguido acertar as nossas contas 35 anos passados não bastasse, ainda foi preciso pedir ajuda aos jacobinos europeus para escreverem preto no branco que ou acabamos com a bandalheira criada há 35 anos, ou não há mais nada para ninguem. Que vergonha!  Se vamos precisar de pelo menos 3 anos para nos endireitarmos, irão ser precisos mais 35 para recuperarmos o nosso prestigio de velha Nação de descobridores do Mundo, façanha gloriosa enaltecida pelo grande Camões, perdidos nesta farsa a que se vem chamando democracia mas que não passa, aos olhos dos estrangeiros que nos sustentam, de anarquia institucionalizada.
          Só falta que o novo governo a sair das próximas eleições não consiga executar tão exigente plano de trabalhos. Entre um aldrabão encartado e um garoto ingénuo, que venha o diabo e escolha. Agora que os dados para o novo jogo já estão lançados, não vai ser nada fácil convencer esta malta de que para ter dinheiro é preciso trabalhar e que mesmo trabalhando não se pode ter tudo. Os do costume (comunistas e afins) já começaram a reagir (não fosse a malta pensar que eles não tinham ainda percebido a dimensão do que lá vem) e há que esperar por mais à medida que as eleições se aproximam. Depois delas será o vai ou racha definitivo.
          Mais do que legislar competente e seriamente para pôr em prática as medidas salvadoras, o novo governo deverá preparar-se para conseguir conter as sucessivas e cada vez mais provocatórias reacções que os perdedores de direitos adquiridos espuriamente irão promover e que, se não contidas com determinação e eficácia, poderão comprometer de vez a nossa recuperação. Veja-se o que se passa com os gregos (tão próximos de nós) cuja recuperação está cada vez mais longe e cujos juros dos empréstimos não páram de subir. Porque será? 
 
                                                                     ALBINO ZEFERINO     6/5/2011

A VITÓRIA ANTECIPADA DE SÓCRATES

   A um mês das eleições Socrates conseguiu um feito notável. Com o anuncio do pacote de austeridade imposto pelos nossos credores para nos continuarem a ajudar sem nos matarem, Sócrates garantiu mais tres anos na chefia do governo em Portugal. Ressuscitou o chumbado PEC IV, garantiu a sobrevivencia dos bancos, resolveu o problema do BPN, salvou os 13º e 14º meses, aumentou discretamente os impostos para os mais ricos e salvou os reformados pobres. Tudo isto com o apoio do PSD. Melhor era impossivel.
          Claro que haverá contrapartidas. Mas não serão politicamente visiveis, nem penalisadoras eleitoralmente. A privatização da TAP e sobretudo da EDP serão as moedas de troca não sendo dificil prever que caiam em mãos espanholas. Aos alemães interessa tambem que as companhias aéreas peninsulares não concorram entre si e que finalmente se concretize o mercado ibérico da electricidade. O TGV para Badajoz irá por diante para dar sentido à obra espanhola equivalente até Madrid (agora percebe-se a teimosia de Sócrates) e a integração ibérica prosseguirá em desfavor de Portugal. Porreiro pá, dirá cumplicemente Barroso a Sócrates quando lhe telefonar a dar os parabens.
          Á maioria do povão o que interessa é o dinheiro no bolso e a sardinha na brasa e portanto irão votar em massa no novo herói nacional, salvador da Pátria ameaçada e injustamente vilipendiado por uma oposição baça, desorganizada e incompetente. Ao PSD não restará mais nada senão apoiar o negócio prometendo apoio parlamentar para depois das eleições sob pena de ser chacinado eleitoralmente. A ver vamos.
 
                                                                     ALBINO ZEFERINO  4/5/2011

terça-feira, 3 de maio de 2011

A ELIMINAÇÃO DE BIN LADEN

Dez anos depois da tragédia que marcou o inicio deste século foi encerrado o capitulo do 11 de setembro com a eliminação do seu autor material. Persistentes como sempre têm sido, os americanos conseguiram finalmente vingar a afronta do pérfido ataque desferido pela primeira vez no coração do seu país. Não se pense contudo que, desagravado o vexame, a questão ficou sanada. O surgimento mediático da Al-Qaeda significou muito mais do que uma simples afronta ao poder unipolar ocidental que os E.U.A. representavam. O ataque às torres gémeas foi a manifestação indiscutivel da passagem definitiva do centro do poder para um mundo multipolar onde as decisões relevantes para o progresso da Humanidade passaram a ser tomadas multilateralmente.
          A extraordinária evolução da nova China e os índices de desenvolvimento registados nas chamadas economias emergentes reflectem hoje este fenómeno em crescente e rápida transformação, onde o eixo central do universo se está deslocando inexorávelmente para Leste. Já nada se faz ou se decide sem a anuência do G-20 onde a China, a India, a Russia e o Brasil pontificam. Os E.U.A. e sobretudo a confusa Europa (que sem ainda ter decidido como evoluir, vai perdendo diariamente influencia nas questões internacionais) já não contam por si sós no mundo e cada vez mais estão dependentes nas suas propostas e decisões das vontades e dos interesses dos novos países emergentes. 
          Para um pequeno e irrelevante país europeu periférico como Portugal estas movimentações de poder contam pouco. Os nossos problemas infelizmente limitam-se a procurar evitar a nossa ruina definitiva, dependendo isso apenas da convicção maioritária do povo portugues da necessidade imperiosa de reformar as estruturas produtivas do país libertando-o dos espartilhos ideológicos que ficaram entranhados no espírito colectivo portugues desde o 25 de abril de 1974. Se conseguirmos libertar-nos destes vícios (tal como um fumador empederenido que quer deixar de fumar) então poderemos levantar a cabeça e o espírito e tentar ombrear com os outros países na tentativa da construção de um mundo melhor para todos onde os homens possam viver em paz e prosperidade, libertos de Al-Qaedas e de Bin Ladens, que nos enfernizam o juízo e nos tornam as vidas mais dificeis.
 
                                                                ALBINO ZEFERINO     3/5/2011  

domingo, 1 de maio de 2011

LIBERALISMO OU SOCIALISMO?

    Hoje em dia não se ouve falar de outra coisa que não seja do Estado social. É uma palavra bonita ao ouvido, carregada de solidariedade e tranquilizadora. Significa para o espírito colectivo portugues o zénite da felicidade: viver à custa dos outros sem nada dar em troca. Admitindo que esta situação será a mais justa para viver em sociedade, o Estado social terá que ser suficientemente rico para sustentar todos aqueles que se contentem em viver dos subsidios do Estado, seja a título de ordenado minimo garantido, emprego vitalício, subsidio de desemprego, subsidio de inserção social, abono de familia, subsidio de alimentação, apoio social educativo, saúde tendencialmente gratuita, ensino gratuito até à maioridade, creches gratuitas, passe social, ajudas de custo e SCUT´s ou quaisquer outros beneficios a que o cidadão do Estado social tem direito pelo simples facto de existir. Mas onde irá esse Estado social buscar o dinheiro necessário para sustentar esse bando de inuteis que nele se penduram para subsistir? Sem recursos naturais para explorar (petróleo, colónias ou financiamentos a fundo perdido) o Estado social terá que recorrer ao crescente e progressivo aumento dos impostos e aos empréstimos externos cada vez mais caros para conseguir aguentar as despesas decorrentes desta politica social que lhe deu o nome.  Como o Estado social desincentiva o empreendorismo e o investimento reprodutivo e por outro lado promove a preguiça e o ócio nos seus cidadãos, terá que ser o próprio Estado social a protagonizar a economia do país, através da detenção dos principais meios de produção e da regulação dos mecanismos de produção de riqueza. Assim surgem as grandes empresas estatais (principais sorvedouros de meios financeiros para os partidos politicos e respectivas clientelas) e os institutos reguladores que mais não são do que apaziguadores de consciencia das decisões espúrias dos governos que as tomam. 
          É neste contexto que surgem hoje as discussões à volta do sistema das reformas em Portugal. Cada vez há mais reformados e por mais tempo. Se durante a sua vida activa os reformados foram habituados a viver à custa do Estado, porquê agora quando realmente necessitam se lhes retira os beneficios a que se habituaram? A questão não é, a meu ver, se se lhes devolve aquilo que descontaram nos seus salários durante toda uma vida ou se se lhes dá apenas uma percentagem disso. Se o Estado é realmente social não pode excluir da sociedade aqueles que tendo trabalhado para ela toda a sua vida, dela mais necessitam agora. Dir-se-á que o Estado não tem meios para sustentar a crescente horda dos reformados. E os desempregados? E os jovens à procura do primeiro emprego? E os realmente pobres por infortunio? Onde está esse Estado social que lhes prometeu o céu e agora os manda para o inferno?  Não será que o próprio Estado social está falido? Julgo que sim.
          O Estado social, que não é mais do que o Estado socialista, terminou em Portugal após 35 anos de vida atribulada. Nascido duma revolução cujo objectivo essencial foi a entrega sem condições das colónias africanas aos soviéticos, o Estado social portugues foi produto da natural reacção a 50 anos de um regime fechado, controlador de mentes e de atitudes, que, com as suas virtudes e os seus defeitos, definiu uma época. Estamos agora no limiar de outra. Será seguramente uma época diferente desta e tambem da anterior. Uma época mais tolerante, menos crispada, mas tambem mais dura e menos solidária. Numa palavra, mais livre e mas mais responsável. O Estado liberal, em contraposição ao Estado social, privilegia o homem em detrimento da sociedade. O homem está no centro das preocupações do Estado que apenas cria as condições para que os seus cidadãos possam viver felizes e em paz, dando largas à sua inteligencia e iniciativa, sem atropelos nem agendas escondidas, assegurando a ordem e promovendo a paz e a estabilidade necessárias para um desenvolvimento sustentado do crescimento nacional baseado numa sã concorrencia e no melhor aproveitamento das suas capacidades intelectuais e humanas. Assim seja!
 
                                            ALBINO  ZEFERINO     30/4/2011