sábado, 7 de maio de 2011

AGORA É QUE VÃO SER ELAS

Não se pense que com a divulgação das medidas que nos vão ser impostas por Bruxelas o caso da intervenção externa em Portugal terminou. Sem que demos garantias de execução rigorosa do plano de salvamento elaborado pela chamada troika não veremos um centimo dos prometidos milhões. Veja-se a Grécia. As constantes reivindicações populares às medidas draconianas impostas pela UE, FMI e BCE, muitas das vezes apoiadas pelo próprio governo grego, têm impedido que o dinheiro do empréstimo prometido à Grécia flua ao ritmo previsto, com os inevitáveis constrangimentos para a recuperação económica e financeira do país. Na tentativa de ultrapassar estes obstáculos, o governo grego solicitou a Bruxelas que fosse considerada a reestruturação da sua dívida. A resposta negativa da Europa a este pedido alternativo grego não pressagia boas-vontades dos credores, antes sugere pelo contrário o risco de ruptura da colaboração, que em ultima análise poderá passar pela exclusão da Grécia da zona euro.
          O mesmo se poderá passar em Portugal se porventura o ranger de dentes próprio da situação de submissão externa em que nos encontramos se transformar (como começa a verificar-se na Grécia) numa atitude generalizada de rejeição do cumprimento das condições impostas para o nosso salvamento. Ainda não há governo em Portugal e já se começam a ouvir vozes críticas em relação a certas medidas que beliscam a autoridade de alguns baronetes da política. PS e PSD já anunciaram pela boca dos respectivos lideres que não concordavam com a dimiunuição do numero de autarquias no país, nem com a redução do pessoal autárquico. As greves e manifestações anunciadas pelas frentes esquerdistas para demonstração da indignação popular à aplicação das medidas constantes do plano de salvamento nacional,  tambem não auguram a tranquilidade necessária para pôr em marcha a recuperação económico-financeira do país. 
          Tenhamos juízo e não percamos o nosso tempo em discussões estéreis à volta de programas de governo inexequiveis. O indispensável já foi determinado pelos nossos credores (de resto com um detalhe extraordinário, o que revela a pouca confiança que em nós depositam). Concentremo-nos em explicar aos eleitores (e aos credores) de que modo os vários partidos em liça propõem executar o plano, ou seja como vão utilizar a escassissima margem de manobra que a troika lhes deixou para cumprirem os objectivos enunciados dentro dos prazos previstos. Senão arriscamo-nos a ser empurrados para fora do euro (não antevejo outra medida correctiva) com o pretexto de que a nossa pouca vontade em arrumar as nossas contas estará a prejudicar a estabilidade da moeda comum europeia. Se assim fôr a desgraça será, então sim, total e definitiva, com as poupanças e os activos a passarem para metade do seu valor e as dívidas e os juros a valerem o dobro. Eu diria que, face a este enorme risco, mais vale ir esquecendo a democracia no seu estado puro e ir pensando em intervenções mais musculadas e enégicas que convençam os recalcitrantes a enveredar por caminhos mais conformados mas tambem mais seguros.
 
                                      ALBINO ZEFERINO   7/5/2011

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