sexta-feira, 27 de maio de 2011

UMA QUESTÃO DE RITMO

 Passado quase um mes da assinatura do memorando de entendimento com o FMI/UE, parece que os portugueses estão finalmente começando a interiorizar a magnitude do sinistro em que estão envolvidos. Mais vale tarde do que nunca, diz o ditado popular. Como tudo o que se passa em Portugal, é uma questão de ritmo o que está em causa. O nosso é lento, descompassado e trôpego. O problema é que os nossos parceiros não dão muitas mostras de se acomodar aos nossos ritmos sulistas. Veja-se como têm reagido à tragédia grega. Se não nos despacharmos com as eleições que inoportunamente nos lembrámos de introduzir neste processo já complicado por si, arriscamo-nos a sofrer da mesma receita que os credores preparam para a Grécia: a entrega pura e simples dos activos empresariais do Estado aos credores por intermédio de uma holding europeia criada especialmente para se assegurar da correcta gestão desses activos cuja titularidade passaria para os credores como compensação pelos créditos mal-parados. Já se falava desta solução há tempos em Bruxelas mas só ontem veio publicada no Finantial Times o que lhe confere um grau de probabilidade aterrador.
         Se não nos despacharmos a constituir um novo governo que dê inicio a tempo à aplicação das medidas de salvamento da economia gizadas para nós pelos nossos credores, não nos admiremos que nos empurrem para o lado vindo outros ocupar o lugar dos nossos decisores, deixando-nos a discutir alegre e inconscientemente quais os melhores formalismos constitucionais a adoptar para a constituição de um governo estável, seguro e forte (ah, ah, ah) que duma penada ponha os madraços dos portugas a trabalhar como chineses (antes dizia-se como mouros) para conseguirem atingir as metas definidas por outros para a nossa recuperação ao ritmo desejado pelos nossos credores. Que Nossa Senhora de Fátima nos valha.
 
                                                                       ALBINO ZEFERINO  26/5/2011

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