Com o 25 de Abril parecia a alguns (muitos deles amigos estrangeiros) que se abria a Portugal um novo caminho que permitiria mais rapidamente recuperar o atraso estrutural de que historicamente padeciamos, permitindo que nos pudessemos finalmente inserir de igual para igual no mundo a que historicamente pertenciamos. Foi assim que sem hesitações fomos entusiasticamente aceites na Europa institucionalizada e até anos depois convidados a pertencer ao excusivo clube do euro, ensaio arriscado de uma integração ousada, cujo objectivo era servir de motor a outras formas de integração europeia. Só que com a crise mundial de 2008 todo este processo ficou posto em causa e Portugal (ainda débil e fraca) não conseguiu aguentar-se nas canetas e caiu. E agora o que vamos fazer? Como sairemos duma situação de onde não podemos voltar para trás, mas que para avançarmos teremos que correr mais do que aqueles que sempre estiveram à nossa frente. Tarefa ciclópica de dificl concretização, direi eu. Que consequencias nos esperam se, como todos já prevêm, não conseguirmos acompanhar o ritmo de desenvolvimento que agora nos foi imposto?
Como em todas as épocas e em todas as situações, os vencidos têm que se submeter aos vencedores. Mas seremos nós os vencidos? E quem nos venceu? Se a União europeia serviu até hoje para alguma coisa foi certamente para evitar que novas guerras se declarassem entre Estados europeus. As questões entre europeus resolvem-se hoje em Bruxelas dentro de salões com ar condicionado e boa comida, mas as consequencias das decisões tomadas não têm recurso (até porque nós tambem participamos delas). Enquanto não provarmos aos nossos credores de que seremos capazes de pagar as nossas dividas, teremos que nos submeter aos seus interesses e directivas. É isto o fundamento do que ficou estipulado no plano de resgate do FMI/UE. Será uma situação idêntica áquela em que os vencidos numa guerra ficam quando os vencedores lhes impõem indemnizações de guerra.
E se não fizermos como nos mandaram? Então se assim fôr não estranhemos que outros venham tomar conta de nós directamente. Já passámos por essa vergonhosa experiência quando o general ingles Beresford foi nomeado pelo governo ingles como primeiro ministro de Portugal na sequência da expulsão dos franceses de Napoleão de Portugal pelos ingleses vencedores. Agora que já não há guerras na Europa e que quem manda são os alemães, o que presumivelmente irá acontecer se não cumprirmos as determinações que nos impuseram, é entregarem as nossas empresas de distribuição de serviços aos que mais dinheiro oferecerem por elas para depois recuperarem o investimento á custa dos portugueses que lhes pagam os serviços. No principio do século passado depois da débacle da 1ª Republica, a generalidade dos serviços publicos portugueses (telefones, água, gás e electricidade, caminhos de ferro, transportes publicos, etc. etc. estavam nas mãos de companhias inglesas). É provável que a situação se repita, só que serão maioritariamente espanhois os donos das empresas fornecedoras. Depois, consoante a evolução da situação em Espanha, Portugal será mais ou menos integrado no espaço económico espanhol. Se incorporando-se sectorialmente nas autonomias, se constituindo uma autonomia mais, se ficando formalmente independente (como aconteceu sob Filipe II em 1580) mas económica e estrategicamente integrada no espaço espanhol, não saberei por enquanto prever. Para isso haverá sobretudo que atender ao interesse espanhol do momento.
ALBINO ZEFERINO 22/5/2011
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