domingo, 6 de fevereiro de 2011

AFINAL PARECE QUE O FMI JÁ NÃO VEM

 Será verdade? Afinal diz o primeiro dos nossos ministros cheio de contentamento bacoco que o FMI já não vem para cá. Teremos nós conseguido apenas ao fim de um mes de novo Orçamento inverter a tendência para o abismo que ainda à quinze dias parecia inexorável? Infelizmente não creio em bruxas. O que parece ter ocorrido (à margem de quaisquer resultados de iniciativa governamental) foi a consciencialização por parte dos nossos credores (a Alemanha em primeiro lugar) de que valeria mais a pena ir tomando conta de nós (e dos outros PIGS) directamente do que compartilhando o saque com os americanos. E porquê?  Porque a maioria dos nossos "assets" já estão hipotecados aos alemães, ou seja, se já lançaram procedimentos cautelares contra nós por conta das nossas dívidas, para quê partilhar com terceiros a execução das mesmas. Por muito que as gerações mais novas estejam realizando agora os estragos que as gerações mais velhas causaram ao futuro do país que a todos pertence, não creio que seja possivel inverter o caminho para a dependencia e para a submissão a interesses externos que estamos já trilhando. Os sócretinos não serão os únicos responsáveis desta tragédia. Apenas lhes calhou serem eles os liquidatários duma empresa que começou mal e que chegou ao fim da sua vida exangue e falida.
   A partir de agora as decisões macro-económicas para Portugal serão tomadas pela assembleia dos nossos credores (vulgo Conselho europeu) e caberá ao governo de turno aplicá-las direitinho senão não haverá mesada para ninguem no mes seguinte. Não nos admiremos assim se a construção da linha do TGV de Badajoz ao Poceirão prosseguir (contra toda a sensatez) pois é um traçado que faz parte da rede de alta velocidade espanhola, financiado pela UE e indispensável para dar trabalho às constructoras espanholas falidas. Se o comboio pára em Lisboa ou fica a 60 kms da capital portuguesa será apenas um detalhe técnico à luz do interesse espanhol. Do mesmo modo a venda dos 33% que a italiana ENI detém na GALP aos brasileiros da Petrobras e aos angolanos da Sonangol, bem como a venda da TAP ao grupo aeronautico onde está a Iberia e a British prenuncia o encerramento a prazo das duas empresas portuguesas de referência para abrir as portas de Portugal à entrada aberta de estratégias estrangeiras em território nacional à custa dos interesses dos portugueses que passarão a trabalhar para os espanhóis, para os brasileiros e para os angolanos. E a venda de outros importantes activos portugueses já foi tambem anunciada no plano de privatizações do governo. Voltaremos aos desgraçados tempos do pós-liberalismo vivido em Portugal no séc. XIX, quando os ingleses (os nossos maiores aliados) aqui mandavam (o ingles Beresford chegou a ser o primeiro ministro  portugues) e os serviços publicos estavam entregues aos ingleses (águas, transportes, correios e telégrafos,etc.), os costumes eram ingleses, o comercio era com a Inglaterra, as contas publicas eram feitas em libras e os escudos eram imprimidos em Londres (quem não se lembra do Alves dos Reis?). Tal como então ninguem se vai lembrar de responsabilizar os políticos por terem deixado o país chegar a esta situação. Quem se lembra de Gomes Freire que foi enforcado por se ter rebelado contra os ingleses que mandavam em Portugal? Não continuamos a glorificar Cunhal e Otelo, Soares e Cavaco, Barroso e Guterres? Em Portugal a culpa costuma morrer solteira.

Albino Zeferino 06-02-2011

Sem comentários:

Enviar um comentário