segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A REVOLUÇÃO ISLÂMICA E A EUROPA

O surgimento de manifestações sucessivas de rebelião contra os poderes institudos nos vários países árabes de confissão islâmica, como um rastilho de pólvora que não se sabe onde vai explodir, leva-nos a pensar na origem do fenómeno e sobretudo nas consequencias que para nós europeus ele possa trazer.
     A meu ver não será estranho ao fenómeno a circunstancia da existencia de cerca de 50 milhões de muçulmanos vivendo na velha Europa, muitos deles possuindo já nacionalidades europeias e relativamente integrados na civilização europeia. Por muitas crises que nos assolem, o eldorado europeu constitui ainda para os vizinhos do sul a única fuga possivel para uma vida melhor que depois verificam não ser assim tanto melhor. Seja como fôr, a enorme interdependência civilizacional que constante e regularmente vai crescendo entre a Europa e os seus vizinhos e antigos colonizados do sul resultante deste êxodo que já dura há decadas, tem suscitado alguns mal-entendidos civilizacionais, manifestados através de pequenos mas significativos sinais de alerta como foram a questão do uso da burka, a da construcção de minaretes ou a das caricaturas de Maomé. Por outro lado, a política aberta de certos países europeus de rejeição da imigração norte-africana abrindo caminho a episódios dramáticos de tentativas de entrada ilegal em território europeu que todas as televisões têm mostrado ao mundo, tem criado nos espíritos da juventude norte-africana sentimentos de revolta contra o antigo colonizador supostamente mais rico que não quer compartilhar a sua civilização com a do colonizado depois de o ter explorado durante anos no seu próprio território.
    A constatação destas situações de objectiva injustiça aliadas à verificação de que o acesso aos beneficios do petróleo não é generalizado nos seus países, impedindo as cada vez mais bem informadas juventudes árabes de participarem no seu desenvolvimento, foi a meu ver o que despoletou este movimento de contestação iniciado no Egipto e que já alastrou a outros países da região e que não se sabe ainda onde, quando e como parará.
    Seja como fôr, parece certo que a situação que resultar deste movimento não voltará a ser a mesma. Para que este movimento contestatário se dilua, não creio que sem a participação activa da União europeia isso possa ocorrer. Se com uma abertura mais clara da Europa aos países árabes (ultrapassando as barreiras da cooperação institucional), se através de ajudas pontuais e específicas a cada um dos países afectados ou de qualquer outra maneira mais engenhosa mas sempre cooperante, ainda não me atrevo a vaticinar. Mas que a resolução do assunto passará por uma intervenção europeia, disso não tenho duvidas.
 
ALBINO ZEFERINO      21/2/2011

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