O sistema político em Portugal foi desenhado de tal maneira que a formação de governos maioritários constitui mais uma excepção do que uma regra. Em períodos de crise profunda exigindo a tomada de medidas de reesturturação estrutural, só a existencia de governos maioritários capazes de impôr alterações estruturais à sociedade e não apenas sacrifícios cosméticos (embora dolorosos) dirigidos apenas a alguns cidadãos, serão capazes de eficazmente inverter a tendência recessiva em que as economias cairam. Não é por acaso que apenas em Portugal (à excepção da Bélgica que por razões constitucionais nunca teve governos de maioria) o actual governo é minoritário. Sendo assim, porque razão é que os portugueses não substituem o seu governo minoritário por outro que tenha condições de promover as tais reformas estruturais indispensáveis para fazer o país sair da crise em que se encontra?
A explicação é simples. Agarrado a uma Constituição caduca e tendenciosa que permite o exercício do poder por governos minoritários não facilitando a tomada de medidas estruturais profundas em momentos de crise profunda, o actual executivo minoritário tem pautado a sua acção por uma governação à vista (ou seja superficial) negociando apoios em zigue-zague à esquerda e à direita apenas com o intuito de se conservar no poder, sem se preocupar na tomada de medidas de fundo que pudessem inverter a tendência depressiva que o país crescentemente acusa. Os portugueses em geral, já habituados a governos inconsequentes, cada vez se mostram mais desiludidos e desinteressados com a política, identificando os políticos em geral com a corrupção (que entretanto se generaliza nos vários patamares decisórios publicos e privados) e criando no imaginário popular um ambiente de perigosa descrença no país e naqueles que nos governam.
A generalização da mentira nas declarações publicas dos responsáveis da política (tomando como tontos aqueles a quem se dirigem) não tem ajudado os portugueses a levantar o seu astral, bem pelo contrário. Alardeando vitórias contra o afundamento progressivo do país de cada vez que circunstancialmente um ou outro indicador aponta para uma ligeira correcção no caminho de Portugal para o abismo, o actual primeiro-ministro prossegue teimosamente no seu lugar convencido que, aguentando o barco a flutuar, basta deixar passar a borrasca para que, chegada a bonança, Portugal retome um crescimento que, sem medidas de fundo, nunca mais virá.
Sem uma alteração substancial na estrutura politica e social do país, só possivel com outra Constituição onde assente uma estratégia de desenvolvimento sustentada e com outros protagonistas mais sérios e competentes, não será possivel a Portugal recuperar desta violenta crise que destapou os vícios e os enganos em que vivemos há mais de 30 anos e que nos lançou num precipicio onde ainda não se vislumbra o fim.
ALBINO ZEFERINO 17/2/2011
Sem comentários:
Enviar um comentário