quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A DESMISTIFICAÇÃO DO 25 DE ABRIL

Em 4 de Maio de 2010 Albino Zefereino escreveu:
 
     Foi preciso uma crise económica e financeira de proporções ainda não completamente determinadas para que a famigerada revolução dos cravos ocorrida em  25 de Abril de 1974 em Portugal chegasse finalmente ao fim.  Durante 36 anos, ou seja um período de tempo correspondente a quase duas gerações, os portugueses suportaram pacientemente as consequências nefastas de uma acção reivindicativa protagonizada por alguns militares subalternos contra um regime caduco e injusto cujo fim estava já anunciado desde a ultima reeleição do então presidente da República.
     Efectivamente, o sucesso da revolta deveu-se mais à convicção da ausência de credibilidade da intentona por parte das autoridades estabelecidas do que a uma acção militarmente concertada e ideologicamente sustentada, como as forças de esquerda vêm propalando desde então.  Dos militares responsáveis pela organização da revolta apenas meia-duzia estavam verdadeiramente conscientes dos seus objectivos e sobretudo das suas consequencias.  Tratava-se de individuos comprometidos com a ideologia marxista-leninista que vigorava na União soviética e que, aproveitando a oportunidade de uma reivindicação corporativa maioritáriamente apoiada pelos militares de carreira contra uma desajeitada medida legislativa que iria prejudicar toda a classe profissional, lançaram mais uma das várias intentonas férteis à época, que daquela vez surtiu efeito.  Ao aventureirismo da acção militar aliou-se o aventureirismo popular cansado de um regime sem solução que impunha ao povo uma guerra que lhe era estranha e se revelava interminável.
     Aproveitando a oportunidade que os militares lhes estavam proporcionando, os comunistas portugueses - de facto os verdadeiros inimigos do regime de então - embrenharam-se na revolução e tomaram conta dela através de acções de propaganda cientificamente orquestradas e utilizando os tais militares marxistas-leninistas como mentores do processo revolucionário. Instalou-se em Portugal nessa altura um paradoxal e curioso sistema que aliava um progressivo e férreo controle da sociedade por parte dos comunistas a uma alegre libertinagem da população inconsciente que conferia um certo colorido ao processo que ficou conhecido pelo PREC (Processo Revolucionário Em Curso).
     Foi necessário mais de um ano e meio para que os militares que não se tinham convertido ao marxismo-leninismo no decurso do PREC se consciencializassem de que era necessário travar o caminho inexorável em direcção a um feroz regime comunista que a revolução tomara e assim desencadearem um golpe de Estado, que ocorreu em 25 de Novembro de 1975 e que rectificou a linha desviacionista do PREC.  Foi um momento crítico do processo revolucionário que por pouco não resultou em confrontações militares e populares que teriam manchado de sangue a pacífica revolução dos cravos.  A constatação de que o objectivo essencial do levantamento militar tinha sido atingido - ou seja, a entrega sem condições do poder nas colónias aos movimentos de libertação controlados pelo PCUS - e a determinação inabalável dos norte-americanos na democratização em Portugal, fez recuar as forças comunistas que pura e simplesmente desistiram de enfrentar os militares golpistas, na condição da não ilegalização do partido comunista portugues.
     Estabilizada institucionalmente a situação política em condições de se proceder à elaboração de uma Constituição política de cariz democrático, nem assim os defensores do PREC desarmaram, promovendo através do partido comunista e dos seus anexos (Intersindical, MDP/CDE, ecologistas e outros) constantes acções de rua, greves e intimidações, que muito desestabilizaram a sociedade portuguesa.  Foi assim que conseguiram manter viva na consciencia popular até hoje a mitificação do 25 de Abril na sua vertente esquerdizante.
     Só após a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, em 1 de Janeiro de 1986, é que foi possivel conferir à democracia portuguesa uma direcção europeia, não sem importantes cedências à esquerdização instalada nas mentes dos portugueses desde o PREC.  É por essa razão que a Constituição política portuguesa de 1976, apesar das várias revisões que sofreu no decurso destes anos, ainda hoje determina que os poderes publicos devem fazer caminhar Portugal na direcção de uma sociedade socialista. É pois esta a razão fundamental pela qual Portugal não conseguiu ainda encontrar o caminho do desenvolvimento sustentado.
     Sem embargo do aplauso europeu ao esforço portugues na democratização formal do país, concretizado pela aceitação da adesão de Portugal à CEE, o certo é que os portugueses sempre foram considerados pelos europeus como um parceiro menor no contexto comunitário e olhados com comiseração pelos seus pares.  Até a entrada de Portugal no exclusivo clube do euro (de que agora estamos a sofrer as consequencias) foi encarada sem reservas, na medida em que o seu peso na moeda comum era negligenciável.
     Contudo, a explosão social e os nefastos efeitos económicos da crise financeira mundial desvendaram a fraqueza estrutural do euro e a necessidade imperiosa da sua estabilização no quadro de uma união económica e monetária alargada.  Os grandes países europeus - em particular a Alemanha - constataram que não era mais possivel desprezar a infuência dos países mais fracos na composição estrutural do euro, sob pena de se tornar impossivel a estabilização da moeda europeia comum.
     É pois neste quadro de salvação da moeda comum europeia que se explica a forte pressão a que os países mais débeis da zona euro estão sujeitos. Sem que Portugal, Grécia, Espanha e Irlanda - os famosos PIGS - recomponham as suas finanças e recuperem os seus níveis de produção económica, não será possivel que os países motores da Europa recuperem definitivamente da grave crise internacional de modo a que a construcção europeia possa prosseguir sem sobressaltos.
     Não creio assim que seja mais possivel aos portugueses continuarem a usufruir das regalias e dos privilégios criados à sombra do 25 de Abril - os chamados direitos adquiridos - como se de benesses naturais se tratassem, sob pena de exclusão do sistema no qual vivem e progridem há mais de vinte anos.  A não ser que se contentem em viver dos mitos e fantasias apregoados pelos comunistas e seus aparentados.
 
                                  ALBINO  ZEFERINO

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