sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A DISTRIBUIÇÃO DA AJUDA ALIMENTAR EM ÁFRICA

A Coca-cola é exportada dos Estados Unidos em latas individuais agrupadas em palletes. As latas são abertas uma a uma por um grupo escolhido de negros que, gritando muito dando ordens uns aos outros, despejam o seu conteúdo para dentro de uma enorme balsa de madeira que assim se vai enchendo do liquido escuro até acima. Incontáveis moscas zumbindo sem parar voam por cima do liquido, que se vai espessando quase transformando-se em melaço por acção do calor ambiente, poisando por instantes e voltando a subir, repetindo a viagem vezes sem conta.
    
     Forma-se uma fila descomunal de gente em frente da balsa, ordeiramente sem empurrões nem discussões, como aquelas que se vêem diante das mesas de voto quando há eleições, cada qual empunhando um velho púcaro de aluminio que, chegada a sua vez, mergulha no liquido acastanhado e quente já sem vida e espessado e, sorrindo, leva para a cubata, contente por poder saciar a sede dos numerosos filhos que choram de fome.
 
     A manobra é supervisionada pela diligente e incansável missionária laica, Lisbeta Joneta, belga de origem romena, que, com ar esforçado mas feliz, tenta orientar com mão de ferro e voz esganiçada os agitados distribuidores do precioso liquido que, aparentando diligência, acabam por deixar cair na terra vermelha mais de metade do liquido que afanosa mas desajeitadamente despejam das latas de aluminio que vão abrindo para dentro da velha balsa, rodeada por cada vez mais moscas sedentas.
 
                                           ALBINO ZEFERINO           algures em África, 18/2/2011

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