Forma-se uma fila descomunal de gente em frente da balsa, ordeiramente sem empurrões nem discussões, como aquelas que se vêem diante das mesas de voto quando há eleições, cada qual empunhando um velho púcaro de aluminio que, chegada a sua vez, mergulha no liquido acastanhado e quente já sem vida e espessado e, sorrindo, leva para a cubata, contente por poder saciar a sede dos numerosos filhos que choram de fome.
A manobra é supervisionada pela diligente e incansável missionária laica, Lisbeta Joneta, belga de origem romena, que, com ar esforçado mas feliz, tenta orientar com mão de ferro e voz esganiçada os agitados distribuidores do precioso liquido que, aparentando diligência, acabam por deixar cair na terra vermelha mais de metade do liquido que afanosa mas desajeitadamente despejam das latas de aluminio que vão abrindo para dentro da velha balsa, rodeada por cada vez mais moscas sedentas.
ALBINO ZEFERINO algures em África, 18/2/2011
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