quarta-feira, 17 de abril de 2013
A DAMA DE FERRO
No dia dos funerais de Lady Thatcher vem a propósito analisar o impacto que as arrojadas politicas da baronesa trouxeram ao desenvolvimento deste mundo, nos inicios do novo século, que já não foi o dela.
Herdeira das cinzas dum keynesianismo esgotado, ele próprio resultado das politicas intervencionistas resultantes da Grande Depressão de 29, Thatcher foi o expoente europeu do ultra-liberalismo, que travou o caminho para o socialismo internacionalista que despontava nos finais dos anos 70. Aliada privilegiada do americano Reagan, foram ambos os grandes obreiros do desenvolvimento exponencial do chamado capitalismo popular, que transformou a decadente sociedade socialista do pós-guerra num período de desenvolvimento acelerado da sociedade ocidental. Amada por muitos e odiada por alguns, Maggie Thatcher passará hoje à História, tal como ocorreu com Churchill a partir da data da sua morte em 1965. A Grã-Bretanha de Heath, Wilson, Mac Millan e outros, que transformaram o outrora universal império britanico nas reduzidas ilhas britanicas europeias que hoje o país é, deu lugar ao novo Reino Unido de Thatcher, cuja influencia ia de Nova Yorque a Singapura e de Hong-Kong a Tóquio. Mas foi sobretudo a partir da guerra das Malvinas e da sua ligação a Pinochet (em cujas politicas económicas, baseadas nas teorias liberalizantes da escola de Chicago, Thatcher se inspirou) que a Dama de Ferro conseguiu alcandroar-se a líder mundial, a par de Reagan e de Gorbatchov, de quem se fez amiga politica.
A politica económica da baronesa de Kesteven, com a destruição dos sindicatos (as greves foram regulamentadas e a obrigatoriedade de sindicalização no mundo laboral foi abolida), bem como a eliminação das industrias texteis, naval, dos automóveis e do carvão, privilegiando o sector dos serviços, em especial o financeiro, através da desregulamentação da City, transformou a Grã-Bretanha no país que hoje é. Promovendo a venda das habitações sociais aos seus ocupantes e encorajando a classe média a investir na bolsa (de 1980 a 1990 o numero de capitalistas passou de 3 a 11 milhões de pessoas), a par da descida do IRC e do aumento do IVA, Thatcher apostou no capitalismo popular como motor do desenvolvimento do país. A inflação foi controlada, o desemprego diminuiu e o crescimento passou a ser sustentado. Em 1991, um terço do património estatal privatizado em todo o mundo pertencia à Grã-Bretanha.
Com Ronald Reagan e João Paulo II é-lhe atribuida uma contribuição essencial para a queda do Muro de Berlim. Thatcher boicotou os Jogos Olimpicos de Moscovo e permitiu a instalação de misseis nucleares em território britanico, renovou a frota atómica e aumentou o orçamento da Defesa em 21,3%. Mas recebeu a "glasnost" de Gorbachev de braços abertos, embora não escondendo o seu desagrado relativamente à reunificação da Alemanha. O seu euroceptismo era endémico. Temia a criação dum super-Estado burocrata e hiper-regulado. Ficou conhecida a sua antipatia por Jacques Delors, a quem tratava por "funcionário". A sua herança está ainda patente no referendo que Cameron aceitou realizar sobre a permanencia do Reino Unido na UE. Segundo nota o "Economist" da época, "os novos trabalhistas dos anos 90 (que lhe sucederam) concluiram que só poderiam salvar o partido da sua ruina, adoptando os fundamentos do thacherismo". Foi assim que surgiu o socialismo blairiano da Terceira Via, que depois se espalhou pelo resto da Europa. A filha do merceeiro morreu rainha.
ALBINO ZEFERINO 17/4/2013
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