quarta-feira, 10 de abril de 2013

DEITAR TUDO A PERDER


          Esta malta não sabe o que está fazendo. É pena que por simples ignorancia ou falta de cultura cívica, o  nosso povo não perceba que o estado de degradação a que Portugal chegou não se compadece com fantasias constitucionais e lutas partidárias. A democracia formal é muito bonita quando o Estado está são e forte e tem suficientes folgas para se permitir dar às pessoas a sensação de poder e de liberdade que julgam ter na gestão das suas vidas quotidianas. Com trabalho e salário para todos, a vida sem ser bela é pelo menos suportável e susceptivel de ser gerida colectivamente segundo regras minimamente democráticas. Mas quando se está em pé de guerra, próximo da bancarrota e sujeito a ditames que não emanam das instituições democráticas inventadas para situações de normalidade, não faz nenhum sentido fingir que se decide de uma maneira para outros virem dizer (e impôr) que se deve agir de maneira diferente.
         Nas situações cujo prejuizo colectivo entra pelos olhos dentro (as greves, por exemplo) o exercicio inconsciente e indiscriminado dos direitos consagrados constitucionalmente já é criticado em surdina por aqueles que são mais afectados.  Mas naquelas situações mais badaladas onde ainda é tabu por-se em causa a legitimidade da acção afectadora de direitos (a concessão dos 13º e 14º meses de salário sem correspondente trabalho efectivamente realizado, por exemplo) aqui d´el rei que me estão a tirar a comida da boca, clamam os mais afectados. Como se em tempo de guerra se estivesse a discutir em plenários de soldadesca as decisões dos oficiais de mandar para a frente de combate este e não aquele.
         Goste-se ou não de Passos, de Gaspar ou de Portas, o certo é que são eles que agora mandam (ou fingem que mandam) na tentativa de cumprir com as determinações que vêm de fora para ver se nos aguentamos sem cair desamparados. Ao PS já se lhe deu a oportunidade com Sócrates, que a desaproveitou escandalosamente em proveito próprio e dos seus mais directos apaniguados. Deixemos agora ver se estes conseguem cumprir minimamente a ciclópica tarefa de salvação nacional a que se propuseram. Já bastam os obstáculos presidenciais que despropositadamente Cavaco e a sua Maria levantam ao governo na sua ânsia protagonista de ficar na história.
          Não é preciso ser-se muito inteligente nem muito culto para perceber que se não endireitarmos as nossas contas até que a Alemanha decida abrir os cordões à bolsa (o que será, a meu ver, a partir de setembro próximo, após as eleições para o Bundestag) ficaremos fora da carroça (ou seja, fora dos beneficios de pertencer à zona euro) passando para o grupo dos países indigentes (como a Grécia e agora o Chipre) que serão tolerados pelos demais para evitar que a UE se desmembre, mas ficando sujeitos a regras permanentes de gestão (essas sim) muito mais duras e limitativas de direitos e de garantias cívicas.

                    ALBINO ZEFERINO                                10/4/2013

Sem comentários:

Enviar um comentário