terça-feira, 2 de abril de 2013
A REFUNDAÇÃO DA EUROPA
Mirando de longe o processo gestacional da Europa de hoje verfica-se que a crise mundial de 2008 transformou a dinamica expansionista do processo europeu inicial num projecto defensivo, mais virado para a manutenção dos ganhos conseguidos, do que para a expansão da ideia comunitária da Europa. Corresponderá esta viragem do processo europeu a um maior aprofundamento da integração dos seus membros ou, pelo contrário, esta travagem da dinamica original constituirá uma mudança de paradigma na construcção da Europa do seculo 21? Não sei dizer por enquanto, mas suspeito que pelo andar das coisas encontramo-nos hoje no limiar de outro projecto que já não corresponde exactamente à ideia de Schumann, Monet e dos seus companheiros dos ideais europeus. Do principio da igualdade dos Estados membros vamos paulatinamente passando ao conceito de Estados da zona ou de fora da zona, ou seja dos opting in e dos opting out. Quanto mais zonas forem criadas (a do euro, a de Shengen, a dos intervencionados ou quaisquer outras que as circunstancias da ocasião criarem) mais dificil se torna voltar à igualdade entre Estados e à adopção de politicas comuns que consubstanciassem um grupo de paises com interesses e formas de acção paralelas. Hoje, os britanicos, por exemplo, privilegiam as relações anglo-americanas em detrimento da busca de soluções europeias, o eixo franco-alemão criado por Miterrand e Schmidt esfumou-se e as politicas regionais europeias são um mito (veja-se a deterioração das incipientes relações ibéricas institucionais iniciadas por Barroso e Gonzalez).
Quererá isto dizer que a Europa como projecto comum morreu? Não direi tanto. Direi contudo que a crise financeira, que deu lugar a uma crise social e económica da qual ainda não se vislumbra o fim, veio obrigar a Europa a reflectir sobre se os principios base sobre os quais repousava a integração pacifica e voluntária dos seus Estados continuam válidos. E tudo indica que já não. Que consequencias terá esta constatação na construcção europeia e nos países que compõem a União? Consequencias pesadas e profundas, diria eu. Em primeiro lugar os países já não se olham uns aos outros como iguais. Há os do norte e os do sul, alem dos ocidentais e os do Leste. Há os escandinavos e os outros. Há os periféricos e os centrais. Há os nucleares e os não-nucleares. Há os continentais e a Grã-Bretanha. Enfim, há os antigos comunistas e os que nunca o foram. Eu diria que há mais diferenças entre os Estados europeus do que parecenças. Será esta constatação o fim da União europeia? Apesar de tudo, não creio.
Segundo o mais europeista dos jornais europeus, o Financial Times, não há nem haverá forma de fazer funcionar bem uma união monetária que agrega países com culturas economicas (eu diria níveis) tão diferentes como a Alemanha, a Holanda e a Finlandia, de um lado e Portugal,a Grécia e Chipre, do outro. Como consequencia desta constatação, eu diria ainda que a união monetária europeia (como existe) está condenada. Para a salvar, ou terá que se prever a saída (expulsão, para ser mais correcto) dos países que a prejudicam ou configurar essa união de forma diferente. Nesta dicotomia reside, a meu ver, o futuro da União europeia como processo aglutinador de um continente em recessão face ao surgimento de blocos continentais poderosos como a China e a América Latina (em redor do Brasil) e a Russia com os seus novos satélites. Será a Alemanha que terá a ultima palavra nesta complicada equação. Esperemos que as próximas eleições de setembro para o Reichstag possam contribuir positivamente para conferir um novo rumo mais favorável a uma refundação da Europa.
ALBINO ZEFERINO 2/4/2013
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