segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A ESTRATÉGIA NACIONAL - 3ª PARTE

     Um país sem estratégia é um país doente, condenado a uma morte mais ou menos próxima com mais ou menos sobressaltos.  Num mundo globalizado e integrados em alianças estratégicas limitadoras das suas soberanias, poderão os países por si sós sem estratégias nacionais definidas prosseguir como independentes uns dos outros?  Será que Portugal é um país carente de estratégia e portanto condenado a desaparecer ou apenas estamos a ser vítimas de uma crise sem precedentes relativamente à qual ainda não acertamos numa estratégia para a combater?
     Portugal sobreviveu durante quase mil anos como país independente (por vezes apenas formalmente) graças a estratégias prosseguidas com sucesso no sentido quer de manter, quer de recuperar a soberania perdida.  Ultrapassadas as fases das conquistas ou reconquistas territoriais como forma de afirmação das soberanias nacionais, as independências afirmam-se hoje através da prossecução de estratégias próprias geradoras de mais-valias para si mesmas e para os espaços estratégicos onde os países se integram.
     Encerrado o período do império, feita a descolonização e consolidada a nossa democracia, qual é a estratégia nacional que Portugal hoje prossegue e sobre a qual pretendemos que assente a nossa independência?  Não será certamente propalando bacocamente as nossas glórias passadas que já poucos conhecem e das quais muitos desconfiam, nem procurando aprofundar  uma cada vez mais estagnada integração europeia tentando evitar que nos expulsem do pelotão da frente onde subrepticiamente conseguimos introduzir-nos, que nos conseguiremos afirmar no intrincado e confuso mundo de hoje onde a detenção de soberania assenta mais na influencia que um país tem sobre os outros do que em meras situações formais resultantes da história ou da posição geo-politica onde o país se insere.
     Dizia Salazar a quem queria ouvi-lo que se Portugal seguisse outro caminho que não fosse o por si traçado estaria condenado à extinção.  Não subscrevo esta afirmação mas também não me esqueço dela ao constatar o desnorte em que Portugal caiu resultante das politicas sem base estratégica prosseguidas desde 1974 e cujas causas esta crise mundial brutalmente revelou.
     Não nos esqueçamos que Portugal não conta hoje senão dentro do contexto europeu. É dentro dele que temos que nos afirmar.  E para isso teremos, como sempre aconteceu durante a nossa história, que contar com os nossos vizinhos espanhóis.  Portugal sem a Espanha não existe para os nossos parceiros, conforme nos foi claramente indicado (só não reparou quem não quis) quer durante as negociações dos dois países à então CEE (os dossiers portugueses não eram fechados enquanto o dossier espanhol correspondente não se encerrasse também), quer no momento da adesão (ambos países assinaram o tratado de adesão no mesmo dia, embora as negociações portuguesas com a CEE tivessem começado um ano antes das espanholas), quer na entrada no euro (era impensável que não houvesse euro em Portugal se ele circulasse em Espanha -   1/3 do mercado financeiro português está em mãos espanholas). Depois da Alemanha (que manda para cá os seus Mercedes, bmw, audi e vw) é a Espanha que domina os nossos mercados.
     Parece assim óbvio que uma das estratégias nacionais tendente a preservar a nossa identidade como país independente será a articulação (em permanente e continua negociação) das politicas comuns com a Espanha (seja o mercado ibérico da electricidade, seja a politica agrícola comum europeia, sejam as redes ferroviárias ibéricas, seja a politica das águas e dos rios, seja a politica energética da Peninsula – não esquecer que os espanhóis produzem energia nuclear e nós não, etc. etc.) e não nos conformar-nos com as cimeiras ibéricas anuais onde os ministros dos dois países combinam coisas muito interessantes entre si para depois a parte espanhola só cumprir o que lhe interessa.  Haverá que encontrar um sistema que verdadeiramente ajude a integrar politicas comuns peninsulares (naturalmente dentro do contexto da EU) no interesse de ambos países ibéricos. Inspiremo-nos na forma de negociação permanente do Estado catalão com as autoridades centrais de Madrid, ou mesmo no relacionamento mais ou menos tenso e disputado (sem complexos e de igual para igual) entre algumas comunidades autónomas e o governo central de Madrid.  A adopção de medidas de cooperação avançada (ao estilo escandinavo) entre Portugal e Espanha que pudessem servir de motor a um aprofundamento da cooperação europeia (recordo por exemplo em matérias de harmonização das fiscalidades ou de sustentação da moeda comum) seriam certamente muito bem-vindas a nível europeu e não só e contribuiriam para aumentar o prestígio de Portugal como país tradicionalmente pioneiro no desenvolvimento da cooperação internacional. 
     Julgo assim que a implementação permanente e continua dum relacionamento institucional com a Espanha poderia constituir a base para uma estratégia nacional de desenvolvimento, benéfica para os dois países, desejada pela Espanha e bem aceite pelos outros parceiros europeus.

ALBINO ZEFERINO 10 / 01 / 2011

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