quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

PARA QUE SERVIU O 25 DE ABRIL?

Mais de 35 anos passados sobre a famigerada Revolução dos Cravos, última manifestação do Romantismo tardio lusitano, muitos portugueses se interrogam afinal para que serviu uma alteração abrupta do regime em Portugal e que beneficios trouxe aos portugueses. Durante anos foi "politicamente incorrecto" questionar as virtudes de tão impoluta e desinteressada acção, só possivel num país de tão nobres tradições humanisticas e elevada moral cívica. Dizia-se que a reconquista da liberdade espezinhada tinha sido a desinteressada e real motivação que levou os heroicos viriatos a lançarem-se em tal aventura, quais navegantes quinhentistas aventurando-se por "mares nunca dantes navegados". Cínica mentira só possivel de medrar num povo imbecilizado por 5 seculos de perseguições e submissões e longe da civilização europeia que subrepticiamente espreitava da periferia.
     O que acontecera de facto tinha tido origem na simples e interessada constatação por parte de certos iluminados de que protagonizavam uma guerra sem fim e sem sentido e que só apeando os responsáveis poderiam pôr fim a uma situação que lhes ia consumindo a vida e a esperança.  Depois foi só executar o golpe, que resultou sem tragédia pela inação da resistencia apanhada sem preparação e de surpresa. A verdadeira, senão a única razão do golpe residiu no acabamento definitivo duma guerra impopular e demasiado exigente para tão fracos recursos e resultados.
     Com o que os nossos valentes revolucionários não contavam foi com o decisivo e empenhado envolvimento da União soviética na sua provinciana e particular iniciativa, atraídos como lobos sanguinários a um festim proporcionado por outros mas que eles perseguiam há decadas, através dos seus sequazes comunistas locais enquadrados férreamente por Cunhal e pelos seus apaniguados. Constatando as profundas consequencias geopoliticas da sua vitoriosa rebeldia caseira, os militares revolucionários abriram as portas do seu covil aos mais bem preparados comunistas que logo se encarregaram de entregar o poder nas colónias aos comunistas locais (MPLA , FRELIMO, PAIGC, FRETILIN) fazendo pender ideologicamente para a esquerda o regime de forças que hoje ainda se mantem nas antigas colónias portuguesas e deixando o prestigio das forças armadas portuguesas nas ruas da amargura onde ainda hoje se encontra.
     O que ganhámos nós com isto?  A geração dos 60 livrou-se da guerra. Mas à custa de quê e de quem?  Da geração seguinte que, enganada, ainda hoje celebra com vivas uma revolução que a desgraçou.  Estamos mais pobres do que em 1974, com menos poder de intervenção internacional, com menos prestigio e muito mais dependentes dos outros.
      Não teria sido preferivel ter deixado evoluir a situação, fazendo substituições cirurgicas à espanhola na máquina do poder, a fim de progressivamente ir encaminhando o país na direcção certa, sem sobressaltos nem sacrificios inuteis. Teriamos chegado onde estamos mais fortes, mais prestigiados e com maior poder de intervenção, sem ter deixado que nos tivessem entregue a uma gente sem escrupulos durante os decisivos anos pós-revolucionários, que fixaram o  ADN que temos hoje e que só uma radical mudança de regime poderá alterar.
 
ALBINI ZEFERINO   19/ 1 / 2011

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