terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A INEVITABILIDADE DO FMI

Mais tarde ou mais cedo é fatal que Portugal tenha que recorrer à ajuda do FMI. Embora isto ainda não tenha sido dito com a clareza que os portugueses receiam, já está decidido há muito tempo por aqueles que nos têm vindo a sustentar há mais de 25 anos. Com a nossa inevitável entrada na então CEE começamos a beneficiar dos famosos fundos perdidos, aos quais logo nos habituamos, convencidos de que tínhamos inventado uma nova arvore das patacas como antanho com o ouro do Brasil (que os nossos irrrmãos ainda hoje reclamam) ou com as especiarias da India.  Porem não nos tínhamos apercebido de que na Europa “there are no free lunches” e que em contrapartida das massas que fluíam regularmente para a suposta modernização do país íamos progressivamente entregando os nossos mercados à feroz ganância dos nossos beneméritos europeus.  Com o nosso teimoso provincianismo que o periferismo português aumenta  acentuamos a nossa dependência soberana (há quem lhe chame dívida soberana) em relação aos nossos credores  com a entrada no restrito clube do euro, convencidos de que agora já éramos ricos, tal como quando Gama chegou à India e Cabral ao Brasil.  Mas bem ao contrário.  À  medida que nos íamos enfronhando no intrincado mundo europeu sem para isso estarmos devidamente preparados (tal como aconteceu com gregos e irlandeses, povos desindustrializados  essencialmente agrícolas e marranos como nós)  a nossa dependência ia aumentando ao ritmo dos euros que para cá fluíam.  Até que chegou a crise que tocou a todos. Ricos e pobres. Só que os ricos (que ainda conservam algum dinheiro) querem refazer as suas fortunas à custa dos pobres, que endividados até ao pescoço, estão dispostos a tudo entregar na condição de que alguém tome conta deles e não os deixe morrer à fome.  E aqui é que entra o FMI, espécie de papão capitalista que vai dizer aos pobres como se devem comportar, ou seja do que devem abdicar (desde o leite com chocolate aos direitos sindicais e outros) se querem ser salvos da miséria atroz que os espera.  Tivessem os sucessivos governos que se sucederam em Portugal tido o cuidado de preparar esta pobre gente para o novo mundo que se nos abriu depois de 1974 e não estaríamos nesta situação de desespero e incerteza quanto ao futuro em que hoje nos encontramos.

Albino Zeferino, 26/ 11 / 2010

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