segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
O JURAMENTO DE HIPÓCRATES
Para quem não saiba, o Juramento de Hipócrates é um compromisso implícito no exercício da profissão de médico pelo qual qualquer clinico, pelo facto de o ser, se compromete (jura profissionalmente) tratar qualquer concidadão necessitado da sua ajuda, em qualquer momento e em todas as circunstâncias de tempo e de lugar. É uma obrigação que dignifica a profissão que, por natureza, é a única que lida directamente com a vida e com a morte de todos nós. Outros profissionais da arte, embora devam (estes apenas por ética ou moral) pôr acima de qualquer interesse (pessoal, publico ou privado) a ajuda desinteressada ao seu semelhante, são tambem compelidos a agir da mesma forma.
Vem isto a propósito das recentes noticias que vieram a lume segundo as quais ocorreram recentemente (parece que por coincidencia) várias mortes de doentes resultantes de falta de assistência médica especializada. Disse-se que não haveria médicos especialistas disponiveis para assegurar o tratamento desses doentes pois, como não ficara estabelecido o pagamento das horas extraordinárias, os médicos que deveriam estar ao serviço, não estavam. E que em consequencia de falta de assistencia adequada os doentes tinham morrido.
Será que por dever de oficio os médicos deveriam estar ao serviço mesmo sem estarem definidas as condições remuneratórias do seu trabalho? Acho que sim. Verificando-se que a sua ausencia determinou a morte dos pacientes, julgo que, nestes casos, o médico deveria ter estado presente, independentemente da eventual razão que lhe assistisse em matéria remuneratória. Só depois de cumprido o seu dever de tratar os doentes, seria licito ao médico recorrer aos meios necessários para a satisfação dos seus interesses. Primeiro as obrigações, depois as devoções, diz o povo sabiamente.
Porque razão a entidade reguladora da actividade médica (a respectiva Ordem profissional) não determinou aos médicos faltosos que cumprissem o seu dever profissional? Depois haveria tempo e oportunidade para, então, se pôr ao lado do médico reivindicando o respectivo pagamento do seu serviço. Ao tornar-se um mero sindicato reivindicativo e não orientador da actividade que regula, a Ordem dos Médicos falhou na sua função reguladora e deve tambem ser responsabilizada por isso. Os médicos faltosos não cumpriram a ética da sua classe ao não ter cumprido o juramento de Hipócrates e a sua Ordem não cumpriu com a obrigação que tinha de regular a actividade dos médicos, em qualquer circunstância de tempo ou de lugar, como dizia o filósofo.
Quando se utiliza a protecção da vida humana como arma de arremesso contra os politicos, estamos a vilipendiar o serviço publico (neste caso o SNS) para além do manifesto desrespeito pela vida humana e pelos valores éticos que devem pautar a profissão. Esses médicos faltosos devem ser punidos como homicidas negligentes e a sua Ordem deverá ser multada por manifesto abuso de poder. O poder de não regular os seus associados quando o deveria ter feito. Teria salvado vidas e cumprido a função para que foi criada. Deus lhes perdoe, pois não sabem o que fazem.
ALBINO ZEFERINO 28/12/2015
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
LIBERALISMO OU INTERVENCIONISMO?
A recente mudança de governo em Portugal suscitou-me de novo esta duvida existencial que assola em permanência as mentes dos tugas desde que Portugal ingressou pomposa e definitivamente na Europa dos grandes e dos desenvolvidos. Longe já vai o mignon Portugal dos pequeninos, que os amigos de Salazar cinicamente retrataram no jardim conimbricense, para deixar claro que quem mandava era Lisboa e quem mandava em Lisboa era Salazar.
Afinal o que é que queremos? Continuar a viver protegidos por esse magnânimo, misterioso e omnipresente Estado, que tudo controla mas que nos protege, ao mesmo tempo que decide por nós e nos castiga quando não fazemos o que ele determina, ou, pelo contrário, preferimos decidir as nossas vidas pelas nossas cabeças, votando regularmente em eleições livres e escolhendo o que pensamos ser melhor para nós? Para isso, porem, temos que saber assumir as nossas responsabilidades, não só quando não podemos fugir delas, mas sempre que de nós algo depende. O liberalismo é isso mesmo. É defender a iniciativa privada e a livre concorrencia, opondo-se à intervenção do Estado nas áreas reservadas à livre iniciativa, defendendo a separação dos poderes do Estado consagrados na Constituição. Mas esta liberdade pressupõe aquilo que em Portugal falta: a assumpção da responsabilidade pelos nossos actos.
O portugues gosta muito de se vangloriar pelos feitos dos outros que ele toma comos seus, mas não é valente. Humilha-se. O portugues acobarda-se depressa perante os revezes da vida e foge facilmente das dificuldades que se lhe apresentam pela frente. É manhoso. Não prevê, não programa, não planeia a sua vida. É rebelde. Não sabe gerir nem decidir por si próprio. Precisa sempre de quem lhe assopre ao ouvido. Não é firme. É impiedoso com os fracos e submisso com os fortes. É desorganizado e perguiçoso, inculto e apaixonado. Não admira pois que, deixado à solta, o portugues se torne corrupto ou déspota. Foi esta alma lusitana que o anterior governo destapou com as politicas liberais que implementou à força da troika.
Incapazes de reagir às vicissitudes impostas pelo governo liberal, os tugas sentiam-se aperreados por programas politicos e sobretudo económicos e financeiros importados da Europa civilizada, mas desadequados ao seu espirito irrequieto e desorganizado. O resultado está à vista. Novo governo minoritário com apoios espurios e com fim à vista. Como será possivel reconstruir o Estado omnipotente que tudo dava e tudo protegia, se a desorganização financeira do país chegou ao estado em que está? Onde vai o governo buscar dinheiro para aumentar os salários, as pensões, os abonos e os subsidios? Ao défice e à divida que tanto esforço custaram aos tugas para controlar. E como fazer crescer o país sem dinheiro para investir e sem investidores para investir?
Receio o pior!
ALBINO ZEFERINO 25/12/2015
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
A EUROPA DOS MINIMOS
De crise em crise a Europa nascida no pós-guerra vem-se tornando numa Europa dos minimos. Da Europa de Gaspieri, Monet e Schumann restam as instituições europeias, transformadas em palácios da burocracia, cheios de gente que pouco faz e muito exige. A Europa de hoje é uma Europa reactiva. Reage em vez de agir. Reage às crises, reage aos fenómenos exógenos, mas já não age. Não cresce, não progride. Longe vão os tempos em que se buscavam politicas comuns, se idealizavam estratégias globalizantes, se assinavam tratados estruturantes. O último, o de Lisboa, redundou num fracasso!
Não admira assim que venham crescendo os cépticos, os descrentes e os desiludidos com o chamado projecto europeu. A Europa subsiste porque serve de escudo aos problemas, às crises e às tragédias em que o mundo de hoje é fértil. Os países pequenos como o nosso sentem-se mais seguros debaixo do grande chapeu de chuva europeu a que pomposamente (ou ingenuamente) se vem chamando a União europeia. De união só tem as obrigações que nos são impostas em nome do progresso integrador que nunca acaba (sempre há algo que falta e muito há a fazer) e de europeu só tem o nome. Onde começa a Europa? Nos Urais ou no cabo da Roca? E onde termina? Em Israel ou nos Dardanelos? Talvez até em Istanbul do lado de lá do Bósforo, quem sabe? Ou afinal começa em Roma e acaba em Lisboa, passando por Maastricht e por Schengen?
A Europa de hoje só se move para resolver problemas. É a união bancária em consequencia da crise financeira; é a reforma de Schengen por causa dos refugiados e são os fundos estruturais (a que pomposamente se chama hoje a Europa 20 20) para ir alimentando os pobres do alargamento. De novas politicas comuns, como poderia ser a politica externa, a politica de defesa, a politica ambiental ou até a politica financeira (que não é apenas a união bancária de que hoje tanto se fala), nada!
Tudo isto provoca no cidadão europeu (aquele que vive na Europa) uma tendência para o disparate. É o disparate dos ataques terroristas, levado pelo desespero do desemprego e da não integração. É o disparate dos votos, com as votações disparatadas nos partidos alternativos que distorcem a realidade politica vigente. E é ainda o disparate da contestação pela contestação que prejudica o normal desenvolvimento social e económico dos países europeus, confrontados com a concorrencia asiática e americana, que mais tarde ou mais cedo destruirá o pouco que a Europa ainda representa.
ALBINO ZEFERINO 22/12/2015
domingo, 13 de dezembro de 2015
VENI, VIDI, VINCI
Cheguei, vi e venci. Tal como Julio César, o imperador romano, Marcelo chegou, viu e venceu. Chegou já há tempos, pois esta será a sua ultima oportunidade de ficar definitivamente na História deste pobre país, onde padrinho, pai e amigos estão. Depois dos falhanços do táxi, do mergulho no Tejo e da presidencia do partido, desta vez parece que vai mesmo ser. Marcelo não será um novo Marcello, nem sequer um novo Sá Carneiro que ele tanto idolatrava. Será mais do que eles. Será o salvador da Pátria que ele tanto ambicionava ser.
Desde pequenino que Marcelo Rebelo de Sousa esteve predestinado a ser alguem. Filho de um segundo e afilhado de um primeiro, que nunca conseguiram verdadeiramente afirmar-se na politica (ao contrário do seu mentor), o pequeno Marcelo Nuno nasceu para ela, no seio dela e foi preparado para singrar nela. Desde o mesmo nome, à mesma Faculdade e à mesma carreira profissional (a de catedrático), Marcelo Nuno seguiu as pisadas de Caetano no esteio de Salazar e foi conduzido pelo pai Baltazar nos meandros da pequena politica de então. Respondeu bem e cedo, pois ainda liceal, já se destacava entre os melhores, mas foi na Faculdade de Direito, ao Campo Grande, onde ele se afirmou como a grande esperança do regime e grande pedra angular da sua perenidade. Arrancado o 19 (mesma nota de formatura do seu farol) foi doutorado antes dos 29 anos e catedrático aos 30. Entretanto, aproveita o 25 de Abril para romper definitivamente as grilhetas onde o Estado Novo o agrilhoara e consegue com mestria e manha recuperar a sua Faculdade das garras dos esquerdistas do Barroso que dela se tinham vilmente apossado. Recupera o prestigio da sua Escola ao mesmo tempo que se ensaia na nova politica através de Balsemão, que o emprega no Expresso. Descobre assim o meio através do qual vai vencer. Com a morte de Sá Carneiro e a inesperada ascensão de Balsemão à chefia do partido e do governo, Marcelo vai a ministro e sobe rapidamente e sem esforço ao topo da hierarquia.
Começa aqui porem a sua desdita. A sua inata propensão para a intriga aliada a uma rara inteligencia e a uma rapidez de raciocinio estonteantes, cedo lhe destapam uma personalidade irrequieta própria da verdura dos anos. As suas constantes e repetidas manifestações de insensatez exploradas por uma comunicaçaõ social em aprendizagem e ciosa de escandalos, em nada ajudam à formação da imagem confiante e austera que um politico com ambições deve exibir. Marcelo resolve combater a imagem negativa que começa a pressentir através das mesmas áreas. A sua passagem pelo Independente de Portas não lhe trouxe porem qualquer vantagem. E as tentativas de vir a ser presidente da Camara de Lisboa e de primeiro ministro depois, através do PSD, tão pouco. Ficou no limbo e só mais tarde consegue reconstruir uma imagem de seriedade e de confiança pela mão de Judite de Sousa. As sondagens aí estão para o demonstrar.
Só um cataclismo impedirá Marcelo de vir a ser o próximo Presidente desta republica cada vez mais pobre e miserável. Com a ajuda de Maria de Belém, que se interpôs no caminho arrojado mas certeiro que Sampaio da Nóvoa corajosamente empreendera, nada nem ninguem travará o caminho aberto que se apresenta a Marcelo, em Janeiro próximo. Será logo na primeira volta que os tugas, fartos de tanta consulta popular e enganosos resultados, apostarão no professor decidido, de resposta na ponta da lingua e inteligencia mordaz para seu primeiro representante publico.
Marcelo tem apenas dois motivos que o levam a ser presidente. Um é condição do outro e depende dele. Marcelo quer fazer aquilo que Cavaco tem vindo a pregar sem conseguir ser ouvido para, depois disso, fazer aquilo que ninguem prega mas que todos (ou talvez só a maioria) desejam e de que dependerá a normalização do regime nascido em 1974. O primeiro é proporcionar uma coligação governativa estável ao centro suficientemente ampla que permita uma revisão constitucional definitiva que possa encaminhar Portugal para a senda do progresso económico e do desenvolvimento social consistentes com as regras europeias e as imposições comunitárias. Só assim Marcelo Rebelo de Sousa ficará na História de Portugal como deseja e se vem preparando desde jovem.
ALBINO ZEFERINO 13/12/2015
domingo, 22 de novembro de 2015
O FUTURO GOVERNO DO PS
Já praticamente adquirida a ideia de que Cavaco vai dar posse constrangidamente a Costa como futuro PM deste país confundido e politicamente original, o futuro lider já se apressou a declarar que "vai governar à direita" para descanso daqueles que receiam um retrocesso (garantido a meu ver) da recuperação económica, embora ainda ténue, que Passos e Portas esforçadamente conseguiram em 4 anos de governação, socialmente contestada e politicamente polémica.
Mas como será possivel governar à direita com o apoio dos partidos contestatários duma politica reformista "arrancada" laboriosamente às "garras" duma Constituição esquerdizante e socialmente contestada com greves politicas permanentes e declarações publicas inflamadas? Os acordos assinados pelo PS com o PC e com o BE não deixam qualquer duvida quanto à direcção que os coisas vão tomar. Grosso modo, vamos retroceder no esforçado caminho traçado pelo governo reformista de Passos, pois não vejo como será possivel manter o limite de 3% no défice imposto pelo programa de desenvolvimento sustentado que a Europa espera de nós.
Efectivamente, basta passar os olhos pelos acordos para constatar que os compromissos a que o PS se submeteu, traduzem, todos eles, um acréscimo da despesa publica e uma redução da receita. Senão vejamos: O PS obrigou-se a descongelar as pensões, a repor os feriados, a acabar com os recibos verdes, a por fim aos estágios, a acabar com os precários, a extinguir a mobilidade funcional, a repor a contratação colectiva na Função Publica, a devolver os complementos de reforma, a não reduzir a TSU para os patrões, a reduzir o IVA na restauração, a aumentar o salário minimo, a repor a clausula de salvaguarda no IMI, a aumentar os escalões no IRS, a proteger os titulares de casa própria de penhoras e execuções fiscais, a aumentar o numero de trabalhadores no SNS, a reforçar o apoio social escolar, a reduzir o numero de alunos por turma, a dar emprego automático aos investigadores doutorados, a reverter as privatizações e as concessões das empresas de transporte publico e a acabar com as privatizações. Como se pode constatar, tudo medidas penalizadoras do Orçamento do Estado.
A apregoada governaçao à direita por parte de Costa não passa assim de mais uma balela lançada através da comunicação social, impossivel de concretizar e apenas destinada a enganar os incautos e assustados cidadãos deste desgraçado país à beira mar plantado, numa tentativa enganadora de se preservar no poder com o apoio dos contestatários ao regime europeista e ocidental que Portugal escolheu vai para 25 anos. O putativo novo chefe do governo pensa que poderá, com habilidades destas, jogando parlamentarmente, quer à esquerda, quer à direita, aguentar um relaxamento da austeridade ao mesmo tempo que satisfaz os compromissos a que o governo portugues se obrigou ao entrar na zona euro da UE. Impossivel, direi eu. Não podemos ter chuva no nabal e sol na eira ao mesmo tempo.
O desfecho de tal politica será uma queda do governo PS a curto prazo obrigando a novas eleições clarificadoras sobre qual o destino que os portugueses preferem: um governo tipo Sirysa sem rumo nem direcção, ou a continuação duma recuperação sustentada da economia que conduza Portugal a um estádio superior de sustentação capaz de ombrear com os seus parceiros mais desenvolvidos da UE. Tudo isto porem daqui a um ano, que será o tempo necessário para as comadres de hoje se zangarem umas com as outras e o novo Presidente se convencer de que, sem novas eleições, nada poderá ser feito de positivo para o país. Uma perda de tempo, enfim! Costa será sem duvida o arauto da desgraça que nos tocará durante o próximo ano. A ver vamos!
ALBINO ZEFERINO 22/11/2015
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
O SEMI-PRESIDENCIALISMO
Conceito inspirado em Salazar, o semi-presidencialismo portugues tem servido de desculpa torpe para enganar os luso-portugueses (os da boa cêpa) dando um nome bonito e vistoso (como os tais da boa cêpa gostam) a uma fraude inventada por um inteligente preverso para se manter no poder por quase meio seculo. Consistia a coisa (a de 1933) em dar todos os poderes ao Presidente (que era escolhido pelo próprio chefe do regime) desde que ele garantisse a permanencia no poder do autor da marosca. Uma espécie de pescadinha de rabo na boca, tão do agrado dos luso-portugueses. A coisa funcionou bem (salvo quando Delgado e a sua onda quase viraram o feitiço contra o feiticero em 1958) até ao 25 de abril. E talvez por isso os ilustres e patetas constitucionalistas da época (Marcelo incluido) resolveram baptizar o novo regime com o mesmo epiteto, julgando que o nome lhes traria o descanso que trouxera ao regime do 28 de maio. Mal preparados (ou quiçá bem iludidos) os constitucionalistas abrileiros consagraram um sistema dubio, pouco claro e confuso, que deixa nas mãos de uma só pessoa (o unico orgão unipessoal desta republica de bananas) a resolução de casos extremos, onde, nem governo, nem parlamento, nem eleições, foram capazes de resolver, sem lhe dar porem os correspondentes poderes para isso.
E é essa a situação em que hoje nos encontramos. Cavaco quereria dar uma solução ao caso, mas a famigerada Constituição não lhe permite ir por esse lado. Vê-se assim entalado nas contradições constitucionais, não lhe restando mais do que duas soluções contraditórias: dar posse a um governo nascido com truques (portanto morto à partida) ou manter o governo que nomeou, agora em gestão, enfraquecido pelo chumbo parlamentar. Qualquer uma das duas soluções que Cavaco escolha, não são boas. Se for o governo de Costa, os comunas se encarregarão de lhe tirar o tapete na primeira oportunidade (que poderá ser já, quando da votação do Orçamento para 2016) derrubando-o. Se for mantendo Passos chumbado, então a direita ficará eternamente na oposição, logo que o novo presidente resolva convocar eleições, que consagrarão em glória o vitimizado Costa como o novo salvador da Pátria assanhada pelos vis credores (contra os canhões marchar, marchar!).
Se a constituição de 1976 não estivesse tão aferrolhada nos seus principios dogmáticos, nem tão blindada contra os "males" do capitalismo (hoje europeu e dominante) seria possivel ultrapassar, sem qualquer ansiedade ou angustia, esta crise politica criada por umas eleições desastradas que apenas indicaram o estreito caminho da coligação ao centro, impossivel de concretizar pela intransigencia e casmurrice dos seus lideres partidários. Em qualquer outro país europeu esta questão ter-se-ia resolvido com o imediato despejo dos dois lideres irreconciliáveis e teimosos e a convocação de novas eleições clarificadoras. Mas em Portugal, enredado numa Constituição matarruana e mal-enjorcada, nada disto é possivel. E assim, cantando e rindo, lá vamos alegres marchando contra os canhões que nos hão-de espatifar.
ALBINO ZEFERINO 20/11/2015
terça-feira, 17 de novembro de 2015
OS REFUGIADOS E O TERRORISMO
Após os terriveis atentados terroristas e mortiferos que assolam regularmente as mais importantes cidades europeias ficamos a saber que a sua origem é sempre de produto caseiro. Ou seja, os terroristas são sempre nacionais europeus ou titulares de passaporte europeu. Ora isto leva sempre a concluir que o terrorismo nasce dos imigrantes e ,de entre estes, dos imigrantes de credo muçulmano, norte-africanos ou oriundos dos países árabes, na maioria dos casos. Sem desmentir o evidente, resta analisar o porquê.
A maioria da imigração que veio para a Europa é originária de antigas colónias inglesas e francesas (Médio e Extremo Oriente e Norte de África respectivamente), todos eles de credo muçulmano.
Como se sabe, os muçulmanos têm regras e principios diferentes dos seguidos na Europa inspirados em Cristo, uns baseados no Corão e os outros na Biblia, tornando assim dificil uma integração plena e duradoura nos costumes, tradições e hábitos dos países de acolhimento. Ao casarem entre si, os imigrantes muçulmanos produzem muçulmanos franceses, ingleses, belgas, holandeses, alemães ou suecos.
Em periodos de crise económica como hoje se vive na Europa, sem perspectivas de futuro e sem saídas profissionais, os jovens europeus (muçulmanos ou cristãos) tendem a procurar outras alternativas de vida, que por vezes passam por fugas para a frente, nem sempre relflectidas nem ponderadas. Por outro lado, a dificuldade de integração sentida pelas primeiras gerações de refugiados ou de imigrantes é vista pelos seus descendentes (já detentores automáticos dos direitos que seus pais só conseguiram lutando pela vida) como um capitis diminucio relativamente aos indigenas de origem cristã. A sua reacção é imediata e brutal: consideram-se seus inimigos e lutam contra eles. Se porventura surge um pretexto organizado, rentável e que lhes ocupe o tempo inutil e o espirito rebelde e vingativo, não hesitam. Após breve lavagem de cérebro para lhes incutirem as regras básicas do jihadismo e lhes ensinarem a puxar pelo gatilho ou a armar uma bomba, estão prontos para fazer os estragos possiveis nos próprios meios onde vivem e onde nasceram.
Haverá pois que olhar para trás para encontrar a explicação para um fenómeno aterrador e malsão. Se os actuais países árabes não tivessem sido colonizados e se os seus naturais não tivessem que ter ido buscar meios de subsistencia para as terras dos seus antigos colonizadores, não existiriam terroristas que se fizessem explodir ou que brincassem ao tiro ao alvo contra outros seres humanos nessas terras que são hoje tambem as suas, convencidos de que estão a fazer o bem servindo de agentes de bandidos sequiosos de poder e de vingança.
Esta é a terceira guerra que o planeta sofre num século. Deus queira que não se torne na hecatombe em que as duas anteriores se tornaram.
ALBINO ZEFERINO 17/11/2015
terça-feira, 10 de novembro de 2015
A REPUBLICA VAI NUA
Parafraseando o velho epíteto de "o Rei vai nu" para significar que alguem chamou a atenção para uma realidade que todos viam mas que fingiam não ver, eu diria que a Republica em Portugal vai nua. Vai nua porque a despiram de todas as virtudes que uma republica deve ter: honestidade, principios, entrega, justiça e equidade. Foram 40 anos de roubalheiras, aproveitamentos e desonestidades de toda a ordem que condenaram o regime que se arrastou pelo mesmo tempo que durou o vilipendiado salazarismo. 40 anos de depravação, de devassidão, de imoralidade e de licenciosidade.
Esta republica das bananas (ou dos bananas) em que o velho Portugal se tornou está a dar as últimas. E tal como começou vai acabar. Começou com a entrega do poder conquistado sem esforço aos comunas e vai acabar entregando de novo o poder aos comunas, mas desta vez conquistado com manha e aleivosia. Mas não creio que seja através do Cavaco que isso aconteça. Cavaco é demasiado casmurro e orgulhoso para conceder que se enganou ao dar posse a Passos há uma escassa semana atrás. Os truques do Costa bem podem convencer os incautos e os mal-intencionados, mas não convencem o Cavaco que ninguem vira. Pois se nem o aldrabão do Sócrates o conseguiu, seria o chico-esperto do Costa que o iria conseguir? A troco de quê? Duma saida airosa da cena? Não será preferivel (mal por mal) que Cavaco fique na história com o epitáfio de intransigente, do que como aquele que entregou o ouro ao bandido? Esquecem-se de que o homem é algarvio.
Manhoso como é, Cavaco vai deixar passar o tempo em consultas e mais consultas até que chegue o momento em que, já não valendo a pena continuar com mais consultas, lhe parecerá preferivel deixar ao seu sucessor (seja lá ele quem for) o ónus de convocar novas eleições clarificadoras. Pois se foi assim com esta manha que o tipo se elevou à grandeza em 1985, porque não irá usar a mesma estratégia na saída?
Esperemos porém que a Republica, ficando assim tanto tempo nua, não se venha a constipar.
ALBINO ZEFERINO 10/11/2015
domingo, 8 de novembro de 2015
O GOVERNO IRREAL
Tal como o país, o próximo governo será um governo fundamentado na irrealidade. Tal como Portugal, que se julga independente e soberano, o próximo governo de António Costa pensa que representará a maioria da vontade dos portugueses. Nem uma nem outra destas coisas são verdades. Dsde que a troika para cá veio (e não saiu) que Portugal está entregue aos bichos. A intervenção internacional teve essa pequena consequencia. Desde 2011 que não somos livres de decidir por nós próprios o nosso próprio destino. Quem ainda não tenha dado por isso que olhe para a Grécia. Muita sorte tivemos emestar aqui coladinhos à Espanha que - essa sim - preocupa sobremeneira os europeus pelos reflexos negativos sobre o futuro da UE e do euro que eventuais aventuras esquerdistas e desenquadradas,produto das próximas eleiçõesde 20 de dezembro próximo,possam vir a ter lugar. Estivessemos nós no lugar da Eslováquia ou da Croácia e o panorama seria outro. Entalados entre a Espanha e o mar somos para os outros apenas um prolongamento histórico daquele conglomerado de Nações que se uniram politicamente sob Carlos Magno na Idade Média.
O desfecho destas nossas eleições, que vai resultar neste governo do PS apoiado pela faixa mais intransigente e inconformada da população portuguesa, relecte apenas uma coisa. A persistência e a habilidade (perversa acrescentaria eu) dum homem inteligente mas malvado que conseguiu atingir os seus objectivos contra tudo e contra todos enganando o estupefacto e saloio Zé Povinho encabeçado pelo maior e mais saloio de todos eles: o famigerdo Cavaco que junto com a sua Maria tem pontificado neste país nos ultimos30 anos.
Tendo começado nestas lides da politica muito cedo (já na barriga da mãe Pala ele escutava as discussões esotéricas entre a malta da esquerda na época) começou por ser ministro de Guterres aos trinta e tal anos e antevendo a queda espalhafatosa de Sócrates fez um desvio táctico do governo onde pontificava para a Câmara de Lisboa onde ensaiou uma experienciade coligação com a esquerda. Inchado pela sua prosápia logo apeou indecente e impiedosamente o jovem Seguro da liderança do partido convencido que destronava Passos à primeira. Só que não conseguiu e teve que esperar os4 anos da praxe para se impor. Mas mesmo assim a malta não lhe deu a vitória nas eleições. Apenas lhedeu licença para travar os excessos juvenis de Passos que incomodavam muita gente. Assustado o homem porem não desistiu e com o apoio dos marginais da banda esquerda conseguiu dar a volta à situação e de derrotado passou a vencedor com o beneplácito do presidente que dizia ter tudo previsto e do Zé Povinho que estupefacto assiste impávido a esta cena própria dum teatro trágico-cómico.
Hoje em dia quem manda na Europa é a classe média e os países mais atrasados (cuja classe média ainda é neófita) ainda pensam ser possivel inverter os dados da questão. Aos países mais atrasados que ousem desafiar o poder instalado das classes médias com resultados eleitorais estapafurdios que dão maiorias incómodas quer à esquerda quer à direita do espectro politico,a UE saberá conduzi-los ao redil da mediania através de troikas que lhes imponham as condutas governativas e do manejo subtil mas eficaz das condiçoes finanaceiras a que estão submetidos. Costa não aguentará muito tempocom o apoio da esquerda ressabiada e ainda o iremos ver vir pedir o apoio ao meio da tabela quando já lá não estiver a jogar o seu adversário de estimação.
A ver vamos!
ALBINO ZEFERINO (em dia de reflexão avançada) 8/11/2015
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
NÃO SE ILUDAM
Deixemo-nos de fitas! O Costa não desistirá de tentar ser primeiro ministro à força. Pois se o aldrabão do Sócrates conseguiu, não há-de o preto conseguir? A enorme rasteira que o PS do Costa passou ao PSD e ao país inteiro, com a colaboração das gajas e dos gays e a do velho e dos seus ressabiados, ainda mexe. Não se iludam com a constatação da aldrabice dos acordos impossiveis, pois o chumbo do Passos está decidido. "Com a nossa colaboração a direita não contunuará no poder", disse, não me lembro onde nem quando, um dos meninos do Jerónimo. Vi e ouvi eu mesmo. Ninguem me contou. O que se passará depois, logo se verá.
Assim sendo, há que contar com um governo de gestão de terça feira em diante. Dizem-me vozes cautelosas que Cavaco está à espera do chumbo do governo para dar o golpe do rabo de raia, que consistiria (segundo essas cautelosas fontes) no seguinte: Constatando que a sua imagem publica está pelas ruas da amargura, Cavaco prepara o golpe da sua vida para, qual prestigitador de feira, limpar a sua imagem baça e incómoda, numa saida triunfal para o hall da fama lusitana, ao lado de Eusébio e de Amália. Como o fará?
Voltando a recorrer às vozes cautelosas que me sussurram ao ouvido, com a sua resignação,o homem mata dois (eu diria mesmo tres) coelhos duma só cajadada. Logo após o chumbo parlamentar do governo, o homem apresenta a sua demissão na televisão (como fez o Spínola, depois do 28 de Setembro de 1974, lembram-se?) explicando ao estupefacto e assustado Zé Povinho que sai porque não quer deixar o seu nome ligado à falência de Portugal, dando posse a um governo de esquerda que nem Soares nem Sampaio tiveram a coragem de fazer. Assim mata Costa que será responsabilizado pelos seus pares (e não só) pela desgraça em que fez cair o país.
Mas não só mata Costa. Mata Passos, que vai deixar em lume brando até que o novo presidente decida o que fazer com ele. Com o PSD desfeito pela espera, Passos é trucidado pelos barões laranjas e substiuido antes das novas eleições. E vão dois. Forçando a antecipação das presidenciais com a sua demissão, Cavaco mata ainda Marcelo (ou pelo menos compromete-lhe o passeio eleitoral) deixando-o sem tempo para a campanha e sem partido para o apoio.
Como se vê, a procissão ainda vai no adro e ainda temos muito que penar até que a missa acabe. Como ficará a igreja depois disto tudo é que já não sei. Talvez as tais vozes cautelosas que me sussurram ao ouvido se descaiam outra vez e me dêm um palpite.
ALBINO ZEFERINO 5/11/2015
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
OS EFEITOS PREVERSOS DAS ELEIÇÕES
Enredados no seu dogmatismo endógeno, os lusos eleitores não conseguem desenvencilhar-se da camisa de onze varas em que as ultimas eleições legislativas os meteram. Prosseguindo bacocamente o processo constitucional previsto na velha e desactualizada Constituição (que só tem empecilhado a recuperação economico-financeira que o país precisa), o ultrapassado Presidente, sem chama nem chispa, deu posse a um governo de antemão chumbado à nascença. Tendo sido ultrapassado pelos acontecimentos (leia-se pela ambição descarada do perdedor António Costa), Cavaco não terá outro remedio agora do que aceitar sem tergiversações saloias um novo governo espúrio e não representativo da verdadeira vontade popular.
Porque o que os portugueses (pelo menos aqueles que votaram) quiseram dizer ao Presidente não foi que não queriam Passos a governar; não queriam era que Passos governasse sem travões. Por isso lhe renovaram o mandato, mas sem maioria. Ao Presidente restava-lhe ter lido esta mensagem e ter-lhe dado corpo. Não basta dizer do alto da sua varanda presidencial que a solução que previra era essa mesmo, ele que tudo vê e antecipa. O dificil não é isso. Não é para prever situações óbvias que ele lá foi posto. Foi lá posto para interpretar a vontade popular com os poderes que o cargo lhe dá. O semi-presidencialismo é isso mesmo. Quieto quando não faz falta e actuante quando é preciso. Por isso tem poderes soberanos quando ninguem mais os tem. E não é refugiando-se atrás duma Constituição caduca, desactualizada, contraditória e preversa (não nos esqueçamos do periodo em que ela foi elaborada, nem das circunstancias dificeis em que foi negociada. O PC de Cunhal não a queria de todo; o PS de Soares queria-a mais solta; o PSD de Sá Carneiro desejava-a mais liberal e o CDS de Freitas mais apertada) que o Presidente desempenha o seu papel nos periodos de crise. Chamado a agir (pois em periodos de acalmia não deve dar-se por ele) o Presidente tem obrigação de traduzir na prática aquilo que a sua consciencia e a sua sabedoria lhe indicam ser a vontade do povo que o elegeu e lhe deu os meios (primeiro magistrado da Nação, comandante supremo das Forças Armadas, imunidades e privilégios presidenciais, etc. etc.).
É lá posivel que se oiça uma galinha da Ìndia representativa de escassos 10% dos votantes perorar sobre o que deve ou não ser feito em matéria de governação ou um velho afinador de siderurgia (que tambem representa apenas outros tantos 10% de eleitores) manter o segundo partido mais votado refém dos seus caprichos e das suas exigencias impossiveis? Não queiramos ser olhados com respeito e consideração pelos outros quando não fazemos nada por merecê-lo. Se estamos assim a Cavaco o devemos. Que Costa queira ser primeiro ministro à força, que Catarina queira mandar nele ou que Jerónimo lhe possa por condições, é mau mas é o resultado preverso dumas eleições inuteis e fora de prazo. Agora que deixemos conformadamente que a musica prossiga só porque o maestro não dá pelas fifias, é que não é aceitável. O concerto tem que acabar antes que o teatro caia em cima dos espectadores e os esmague impiedosamente na sua queda.
ALBINO ZEFERINO 2/11/2015
sábado, 31 de outubro de 2015
OS REFUGIADOS E A EUROPA
Ultrapassada (ou não) a crise financeira que por pouco deitava a Europa abaixo, eis que surge, ameaçadora, nova crise consubstanciada nos refugiados (serão mesmo todos eles refugiados?) que fogem dos seus países de origem, engalfinhados em guerras misteriosas cujos contornos ainda não são visiveis a olho nu, e desembocam desesperados à porta duma Europa confusa, dividida e incrédula e incapaz de suster tamanha avançada, que não cessa de crescer.
No inicio da crise financeira, quando o euro estava a ser violentamente atacado pelos mercados, alguns falavam na necessidade da mutualização das dividas dos Estados membros como única forma de salvar a Europa ameaçada de extinção. Contudo, a instalação de um mecanismo europeu de estabilização financeira conseguiu travar o descalabro que se adivinhava e por em marcha uma união bancária concebida para permitir à eurozona resistir à falência dum banco, sem necessidade de comprometer as finanças publicas do respectivo país e envolver toda a eurozona no processo. O mesmo ocorreu com a crise grega da passada primavera, quando os 19 países da eurozona estiveram à borda do precipicio. Só quando os alemães puseram o Grexit em cima da mesa é que Tsirpas deu uma cambalhota e cedeu.
Destas crises a Europa saiu reforçada e mais solidária, dizem alguns. A acreditar nesta eventualidade, a crise dos refugiados não será mais do que um mau momento para a Europa. Os europeus conseguirão criar uma verdadeira gestão comum das fronteiras da União com um corpo europeu de guardas fronteiriços e uma politica de imigração económica concertada, como existe no Canadá, com as suas quotas por competências, etc.etc. Desejariamos todos acreditar neste cenário optimista, mas não sei. Para ultrapassar a crise financeira, os dirigentes europeus escolheram resolutamente a austeridade, ou seja, o saneamento drástico das finanças publicas, os cortes nas prestações sociais e as reformas económicas de cariz liberal. Um remédio de cavalo não completamente convincente, mas com a vantagem de poder ser controlado e balizado.
A solução para resolver a crise dos refugiados parece ser bem menos evidente. Com mais de 700 mil refugiados que, desde janeiro deste ano, já passaram o Mediterrâneo, não há ainda uma resposta única e comprovada por parte da UE. Desde maio, que a Comissão esboçou as pistas que, sob a pressão dos acontecimentos e da Alemanha (país destinatário em primeira linha na preferencia dos refugiados), estão a ser adoptadas. A criação de "hot spots" para separar as populações elegiveis para beneficiarem do direito de asilo, dos simples imigrantes económicos, a instalação de centros de acolhimento para evitar que os refugiados durmam nas ruas e nos campos, os acordos de recolocação de urgencia dos refugiados e o reforço dos efectivos e das competências da agência Frontex nas fronteiras externas da UE, são até agora as medidas já tomadas. Mas se elas não funcionarem todas impecavel e simultâneamente (do que é legitimo duvidar-se) o castelo de cartas pode desmoronar-se de um momento para o outro, virando a Europa do "interior" (Alemanha, Reino Unido, Suécia) principal destino dos refugiados, contra a Europa do "transito" ou da "entrada" dos refugiados (Grécia, Itália, Balcãs), que se tornariam em vastos campos de retenção (leia-se de concentração) de refugiados.
Como conseguir uma resposta concertada e firme por parte da Europa ameaçada por esta invasão pacifica de refugiados fugidos das guerras e da miséria que assolam os seus países e que eles atribuem em útima instância aos europeus? Como evitar que os partidos politicos mais xenófobos e populistas se reforcem manipulando os receios criados nos espiritos dos cidadãos europeus pelas imagens televisivas das hordas de refugiados que diariamente entram em território europeu? Como reagir contra a intransigência manifestada por esses partidos quando começarem a influenciar as agendas politicas dos respectivos governos (a vitória eleitoral na Polónia do partido extremista Direito e Justiça no domingo passado é um sinal do que aqui digo)?
Se esta crise dos refugiados se está a revelar bem mais profunda do que foi a crise do euro, é necessário que se aprofundem as suas causas. E essas causas, tendo sido provocadas pela Europa, não são europeias. Encontram-se para lá das fronteiras da União. É a guerra na Siria, a insegurança no Afeganistão, a miséria no Bangladesh, a ditadura eritreiana, etc.etc. A Europa, que viveu durante muito tempo como um óasis de paz protegida das áleas do resto do mundo, começa a sentir agora as vicissitudes desestabilizadoras que esta crise está criando. Mas como pode a Europa contribuir para evitar este descalabro se nem sequer esteve presente na mesa das negociações tendentes a resolver o conflito sirio?
ALBINO ZEFERINO (de regresso de merecidas férias cariocas) 31/10/2015
terça-feira, 13 de outubro de 2015
OS LIMITES DA DEMOCRACIA
Falar em limites à democracia é quase tão sacrílego como duvidar da ressurreição de Cristo. A democracia não tem limites, nem a ressurreição de Cristo é passivel de duvida. Contudo, nem um nem outro destes fenómenos possui consistência própria sem que lhe subjaza a fé. Cristo era filho de Deus, por isso ressuscitou. A democracia não tem limites, por isso é virtuosa. Mas afinal porque razão será preciso pôr limites à democracia? Precisamente para a salvar, direi eu. Tal como foi preciso que Cristo ressuscitasse para que a Humanidade o seguisse. Então que limites serão esses? São os que resultam da sua própria essencia.
A democracia é o governo do povo. É no povo que reside a soberania nacional e é pelo povo que os governos nacionais devem ser legitimados. Daí que o povo deva estar permanentemente atento aos desvios que certos malandrins fazem da democracia para a desvirtuarem aos olhos do povo. A utilização da democracia para legitimar determinadas condutas ilegitimas precisamente em nome dela própria, é ilegal, é imoral e deve ser combatida. Aqui residem os limites á democracia! Quando Hitler sobe ao poder na mui democrática (e esquerdista) Alemanha de 1933, através de eleições legitimas e democráticas, ninguem lhe passaria pela cabeça que, anos mais tarde, ele invadiria a Europa em nome dum 3º Reich fanatizado e protagonizaria um horroroso holocausto, como de facto aconteceu.
Será assim de repudiar que, manipulando legitimos resultados eleitorais resultantes duma consulta popular indubitavelmente democrática, alguns malandrins ambiciosos usem a democracia para tentar legitimar condutas impróprias que resultam do aproveitamento espúrio dos limites da própria democracia. Que limites serão esses que não devem ser ultrapassados por politicos honestos e bem intencionados? São precisamente os que resultam da própria democracia! Será legitimo que em democracia concorram a eleições partidos democráticos e partidos que não o são, nem nos seus principios, nem na sua prática partidária, nem na sua doutrina, nem nos seus fundamentos? E se porventura, na ingenuidade dos eleitores, esses partidos tiverem obtido resultados eleitorais suficientes para serem usados por malandrins ambiciosos para a confecção dum governo virtual, que apenas olhe aos formalismos constitucionais e não á verdadeira essencia dos problemas que estavam em jogo nas próprias eleições que disputaram? Será legitimo que a democracia aceite a ultrapassagem desses limites?
Pois é precisamnete para dar resposta a estas questões que existe um Presidente da Republica. Será que o actual (que foi o responsável pela fixação da data destas eleições, que já se adivinhavam renhidas) está em condições animicas e psicológicas para, no final do seu mandato, tentar resolver estas espinhosas questões, cuja natureza politica vai certamente ser tão decisiva e determinante para Portugal e para o seu futuro como país soberano e independente, como o foi o golpe de 25 de novembro de 1975?
A ver vamos!
ALBINO ZEFERINO 13/10/2015
sábado, 10 de outubro de 2015
EM POLITICA O QUE PARECE É
Passada uma semana das eleições continua o impasse. A coligação PSD/CDS ganhou mas não consegue formar governo. O PS de Costa perdeu mas tomou a liderança do processo tentando ganhar na secretaria. Todos os outros não ganharam mas julgam que sim. Cavaco, que dizia estar preparado para tudo, afinal foi apanhado à meia volta e vai ser confrontado com uma hipótese que não previu. Triste fim para um Presidente que esteve no centro do processo politico em Portugal mais tempo do que todos os outros.
Em politica as coisas nunca são como todos desejamos. A direita que efectivamente ganhou as eleições afinal parece que perdeu e a esquerda que não conseguiu ganhar como esperava, afinal parece que vai ganhar. Passos não tem outro interlocutor para negociar senão Costa, que por sua vez tem Passos, mas tambem tem Catarina e Jerónimo. Costa parece assim ter mais campo de manobra do que Passos para negociar um futuro governo estável. E parece que vai usá-lo. Tudo indica, pois, que a tarefa que Cavaco encarregou Passos de fazer não vai ser possivel concretizar e que Costa (o grande perdedor que parecia ameaçado de evicção), afinal mesmo sem mandato presidencial, vai conseguir realizar. Cavaco vai ser confrontado com um governo PS com apoio parlamentar da esquerda desunida, que afinal parece estar unida. Passos, afinal derrotado, não vai ter outro remédio senão apoiar Costa para que este não fique completamente em mãos revanchistas.
E a Europa o que dirá a isto? A meu ver, nada. Confrontada com a inevitável invasão pacifica dos pés descalços que não consegue suster e com os avanços nacionalistas em várias frentes que ameaçam a sua união, a UE vai parecer aceitar esta solução em Portugal, cujo futuro governo parece não por em perigo a vontade popular lusitana em permanecer na UE e no euro, que continua a parecer firme.
O próximo futuro parece assim estar delineado, mas pela negativa. Não sendo aparentemente possivel ao formador Passos conseguir o apoio do PS de Costa a um governo de direita minoritário estável, será o perdedor Costa quem parece ir conseguir apresentar ao atrapalhado presidente, que parecia preparado para todas as hipóteses, um governo chefiado por ele com o apoio da esquerda revanchista anti-capitalista e anti-europeia. Uma espécie de Syrisa ao contrário.
Não nos iludamos. O que parecia fácil, evidente e aceitável apesar de tudo, parece hoje mais distante. O que à boca das urnas parecia uma vitória, parece ir tornar-se numa derrota e vice-versa. Não será porém nem uma vitória nem uma derrota total ou definitiva. A provável vitória de Marcelo nas presidenciais vai trazer à politica portuguesa um dinamismo que não se via desde os tempos do PREC. Em politica o que parece é.
ALBINO ZEFERINO 11/10/2015
domingo, 27 de setembro de 2015
MISSÃO INACABADA
Numa apresentação feita para a Universidade Católica que denominou "Portugal depois da crise financeira: Missão inacabada", o representante do FMI em Portugal,que cessa funções no final deste mes, afirma que "o programa (referindo-se ao memorando de entendimento) teve um bom começo mas tem de ir mais além", acrescentando que "as reformas estruturais têm de continuar". Ele di-lo sem rebuço nem disfarce:"as reformas melhoraram a situação mas não chegam. Há ainda muito que fazer na melhoria da gestão nos sectores publico e privado. Só assim se poderá pôr a economia a crescer de modo sustentável e a criar emprego,sobretudo para os trabalhadores de baixa qualificação, os mais afectados pelo desemprego e que constituem a maioria." É a tarefa que ele considera como o "desafio numero um" do próximo governo, seja ele qual for.
Para o FMI,"numa economia onde não se fazem reformas estruturais para reduzir os custos de contexto e em que os custos salariais ascendem a 20 ou 30% do total dos custos das empresas, a economia só se pode ajustar à crise (combater a crise, diria eu sem eufemismos) despedindo, para eventualmente contratar depois a salários mais baixos." Continua depois dizendo que " para criar emprego a sério e estreitar a convergencia com a União, Portugal tem de crescer pelo menos 2,5 a 3%; crescer 1,5 ou 2% é bom para uma economia que esteve estagnada tanto tempo, mas não é uma meta muito ambiciosa."
A explicação para o débil crescimento portugues, ainda por cima em circunstancias tão favoráveis (baixo preço do petróleo, baixo valor do euro em relação ao dólar, baixas taxas de juro do BCE), é, para o FMI, "o alto endividamento das empresas (que arrasta o desemprego) e a falta de competitividade. São precisas novas empresas para exportar numa escala maior. A velha visão dos sectores transacionáveis e não transacionáveis está ultrapassada. Hoje exporta-se educação, saúde, transportes, serviços financeiros e até construcção civil, sectores onde Portugal tem vantagens competitivas."
Um inquérito feito este ano a empresas portuguesas pela representação do FMI sobre o impacto das reformas apontava precisamente essa urgência: mais eficiência na Administração central e nos tribunais (civeis,do trabalho, administrativos e fiscais) e pagamento a horas em todos os escalões publicos (central, local e empresas).
Segundo o FMI, houve muitas coisas que não resultaram conforme era esperado: a qualidade do ajustamento orçamental foi a primeira delas, isto é, a relação corte nas despesas versus aumento de impostos. O aumento destes foi muito maior do que o previsto. Outra coisa que não funcionou foi o desenvolvimento do mercado laboral, isto é, o disparar do desemprego, que tambem não estava previsto. Isto ocorreu por causa do elevado nível de endividamento das empresas, escondido debaixo do tapete dos balanços bancários. São mais de 100 mil as empresas nestas condições, pequenas e micro, que aliam o sobre-endividamento à baixa produtividade e que empregam mais de 500 mil pessoasdo total do emprego proporcionado pelas empresas. "Esta não é tarefa para o FMI; é uma tarefa para quem cá está" conclui o relatório do FMI.
E o que têm sobre isto dito os partidos que concorrem às eleições do próximo dia 4 de outubro? Para o PS - que arvorou em bandeira eleitoral o fim da austeridade como tem sido interpretada pela coligação no poder - o que há que fazer é aumentar o consumo interno, proporcionando às pessoas mais dinheiro disponivel através de aumentos salariais e de crédito e devolvendo impostos e taxas cobrados "para além do exigido pela troika". Para os partidos "fora do sistema", o que há a fazer é sair do euro (e da União europeia) e começar tudo de novo como se não tivesse havido crise. Só a coligação parece estar ciente das dificuldades que a estabilização económica acarreta, mas, ainda assim, com demasiado optimismo provocado pela exaltação dos escassos resultados conseguidos.
Será que, na ausencia duma verdadeira revisão constitucional propiciadora de condições objectivas para uma completa reforma do Estado que evite a intervenção castradora do tribunal constitucional, a coligação sem maioria terá condições para fazer sair Portugal deste buraco sem fundo onde caimos?
ALBINO ZEFERINO 27/9/2015
domingo, 6 de setembro de 2015
O FUTURO DA EUROPA
Muito se tem dito e escrito sobre este candente tema, tanto na Europa como fora dela. E isto é explicável. Criada no rescaldo da 2ª GG que já lá vai há mais de 70 anos, a Europa dos nossos dias (que hoje se denomina União europeia) não é mais a Europa que saiu duma guerra devastadora e que conseguiu subsistir no topo da civilização graças à ajuda norte-americana (da qual a OCDE e a NATO são respectivamente as organizações visiveis dessa ajuda), mas sim um conjunto de países geograficamente vizinhos uns dos outros que se confrontam diariamente entre si sobre as suas relações e sobre as suas posições face aos problemas com que o mundo de hoje está confrontado e que pouco ou nada têm que ver com a conjuntura existente no final da 2ª GG. A grande preocupação há 70 anos era saber como sair do estado decrépito em que nazis e aliados deixaram a Europa depois de se tentarem extreminar uns aos outros. Hoje recuperada, a Europa debate-se com problemas não menos graves e candentes do que os daquela altura, sem solução aparente e duradoura que possa justificar a sua existencia como uma verdadeira união de Estados.
A Europa do Tratado de Roma nasceu da preocupação dos seus principais lideres em evitar lutas e confrontações entre europeus que pudessem conduzir de novo o continente à miséria e ao subdesenvolvimento. Mas à medida em que a Europa se ia desenvolvendo como tal, começaram a surgir os desentendimentos entre os seus membros para cuja solução (ou adiamento) a Europa (ou os burocratas que a representam aos olhos dos europeus) ia recorrendo com a negociação permanente que passou a ser a técnica que ainda hoje é utilizada para a gestão dos assuntos europeus. Daí o surgimento dos chamados Conselhos europeus (que regra geral eram bi-anuais e informais) e que hoje se reunem por tudo e por nada e sem os quais a UE não desenvolve. Assim se passou a Maastricht, a Schengen, a Nice, a Lisboa e aos sucessivos alargamentos que, se por um lado faziam parte do processo de consolidação europeu, por outro, serviam para esconder na multidão de aderentes os diversos problemas que visões distintas das coisas tinham criado entre os Estados membros.
Até que se chegou ao fim do ciclo, que muitos situam na queda do muro de Berlim (ou menos prosaicamente, na falência do sistema marxista na condução dos assuntos de Estado) e outros na viragem do século. Seja qual for o momento escolhido, o certo é que a União europeia sofreu um enorme abalo quando se verificou que não estava preparada para fazer face ás crises que a abalaram. O desaparecimento do inimigo comum que ideologicamente unia os Estados membros e a constatação de que a zona do euro precisava de mais alguma coisa do que a simples circulação comum da mesma moeda numa determinada área geográfica, mostraram aos europeus e ao mundo as debilidades estruturais dum projecto virtuoso mas utópico, que está inacabado e susceptivel de vir a revelar inacapacidades de prosseguir na senda do que os seus fundadores deixaram expresso.
Receio bem que o aparecimento do problema migratório resultante das facilidades consagradas em Schengen (e ainda não equacionado sequer) antes da resolução completa e definitiva da crise do euro, possa vir a comprometer definitivamente o único caminho possivel (eu não vejo outro) para que a União europeia e os seus Estados membros possam continuar a usufruir de um estatuto civilizacional superior e constituam o exemplo de vida que os outros povos procuram quando chegam a dar as suas vidas para se instalarem na Europa.
Sem uma clara definição das regras que presidirão no futuro aos destinos da UE (alargamento das politicas comuns, gestão comum de recursos, tomadas de posição unas e inequivocas face aos mais importantes problemas mundiais, v.g. representação única no CSNU, etc. etc.) e até distintos graus de integração consoante as matérias em jogo, serão para mim instrumentos indispensáveis para que o futuro da Europa se apresente risonho aos nossos olhos e não cada vez mais turvo e nebuloso.
ALBINO ZEFERINO 6/9/2015
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
Embora continue a convicção generalizada de que as presidenciais serão para discutir depois das legislativas, à medida que o tempo passa as coisas vão-se esclarecendo. A verdadeira corrida começou quando alguma malta socialista, assustada com as posições politicas extremadas defendidas pelo auto-candidato Sampaio da Nóvoa, porpôs a antiga presidente do PS do tempo de Seguro, a simpática e risonha Maria de Belém Roseira, para candidata oficial do partido. O PS está definitivamente dividido ideologicamente, com os velhos marxistas de um lado e os novos fundamentalistas do outro (os chamados sirisas).
Quem ganhou com esta reviravolta foi a direita. Completamente dividida à partida pelas ambições individualistas de alguns dos seus barões, parecia que a esquerda já teria a eleição no papo desde que surgira a extemporânea candidatura de Sampaio da Nóvoa, empurrado por alguns curiosos e apoiado depois pelos ex-presidentes, em bloco. Com a direita esfrangalhada pelas lutas fratricidas, a esquerda em geral (algum PS e todos os outros à esquerda dele) tinham todas as razões para crer que a eleição de Nóvoa seria um passeio pelo jardim à beira-mar plantado. Ganhariam o Parlamento com Costa e a Presidencia com Nóvoa. Seria um fartar vilanagem.
Com a desistencia de Santana, a coisa porém complicou-se para a xuxaria. Num gesto aparentemente solidário e patriótico, Santana recuou, deixando campo livre ao candidato mais velho e mais antigo. Não quer morrer antes de tempo, ainda lambendo as feridas que a passagem por S.Bento lhe provocou. Afastado o espectro populista, Marcelo tem agora o caminho livre (Rio prefere esperar pela queda de Passos) para finalmente aparecer em cena num lugar correspondente ao protagonismo de que se arroga desde pequenino.
Com Marcelo sozinho à direita e com Nóvoa e Belem a disputar a esquerda, é fatal que a coisa só se resolve à 2º volta. E na 2ª volta, Marcelo prefere Nóvoa para combater. Está mais à esquerda que Belém, é mais maçarico do que ela e poderá assim conquistar os votos de que necessita à esquerda para atingir o lugar que sempre ambicionou.
Deus o guarde!
ALBINO ZEFERINO 28/8/2015
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
ELEIÇÕES PARA QUÊ?
Em democracia é suposto haver eleições. Mas para quê? Naturalmente para apurar da vontade popular. E para que queremos nós saber da vontade popular? Para que dela saiam os governantes que vão decidir do nosso destino, como soi dizer-se. Se o poder reside no povo, deve ser naturalmente o povo a decidir quem nos governará e de que maneira o deverá fazer. Mas se a forma e o conteudo da governação nos é imposto por outros que não a vontade popular, valerá a pena perguntar ao povo quem nos deverá governar e de que maneira o deverá fazer? Aqui está o busilis desta magna questão que nos atormenta.
Tivemos a recente experiencia da crise grega que nos mostrou que, apesar da vontade popular dos gregos que votaram num governo anti-europeu e anti-capitalista para os governar, acabaram vinculados aos ditames da organização donde lhes vem o dinheiro necessário para sobreviver. Chegou-se mesmo ao paradoxo de ser o governo extremista de Tsipras que mais e melhor conseguiu negociar a salvação da Grécia duma bancarrota fatal e incontornável.
Não serão as eleições apenas um pretexto para mudar os agentes do poder (pois disso se trata) sem revoluções nem agitações e excessos inuteis delas derivados (sabemos bem do que falo) que só perturbam o normal desenrolar dos negócios que no fundo são a máquina que faz andar este mundo (como antes eram as guerras)?
Mal comparado, será como recomeçar a nova época do campeonato nacional de futebol, onde as regras permanecem as mesmas dos anos anteriores, os clubes os mesmos (com pequenas e insignificantes alterações) e as equipas potencialmnete vencedoras não se alteram. Umas vezes ganha o Benfica, outras o Porto e uma que outra vez o Sporting. O PS é do Benfica (é o maior), o Porto é do PSD (carago) e o Sporting é do CDS (a malta fina). Já pensaram o que seria se as pessoas (fartas do futebol com as suas manhas, arbitragens falsificadas, ordenados excessivos, dopings e vicios escondidos, etc. etc.) deixassem de ir ver os jogos, discuti-los na televisão e nos jornais e mandar essa malta toda às malvas, o que seria de nós? Acabava Portugal.
ALBINO ZEFERINO (em dia de reflexão profunda) 24/8/2015
sábado, 15 de agosto de 2015
EUROPA 2020
Com esta designação 2020 quer-se apresentar a Europa à malta como uma tentativa bacoca (própria dos presidentes da Comissão, este e o anterior) de um projecto de desenvolvimento cool, à la mode, feito por jovens e para jovens, portanto, virado para o futuro.
2020 é daqui a 5 anos. Será que daqui a 5 anos a Europa estará diferente do que é hoje? Eu diria que sim, mas não como os inventores do programa 2020 vaticinaram. Então como estará a Europa dentro de 5 anos?
Dentro de 5 anos a crise não terá passado, os bancos continuarão em reestruturação, ainda não se terá crescido suficientemente para descolar e acima de tudo continuaremos ameaçados pela emigração cada vez mais feroz à medida que a ferocidade da guerra donde fogem aumenta. A rebelião siria ter-se-à transformado em guerra aberta contra o Ocidente cristão em consequencia da submissão xiita à pressão sunita dominante. Os russos de Putin são agora os árbitros da contenda substituindo a NATO moribunda, após o incio da presidencia americana de Hillary Clinton. A frente turca estará ao rubro com a resistencia do PKK apoiado pelos sunitas iraquianos e a velha Merkel já nada pode fazer para ajudar Erdogan. A UE continua com os seus Conselhos dedicados à salvação da Grécia, agora comandada por uma coligação mais friendly do que a do Syrisa, mas sem a convicção que as resisitencias de Schauble (já desparecido) lhes incutia.
O problema maior já não é a Grécia, nem sequer a Espanha que (com Portugal à ilharga), parece ter regressado ao rotativismo politico costumeiro a à lenga-lenga dos subsidios comunitários. O grande problema que a Europa 2020 enfrenta é a invasão descontrolada dos pobres diabos fugidos da guerra provocada por um ISIS sem freio nos dentes (verdadeira 3ª guerra mundial) apoiado por uma Arábia saudida exângue (o preço do barril do petróleo fixou-se abaixo dos 15 dólares) e ciosa de voltar a controlar o Ocidente (sobretudo os EUA) que desde que Hillary subiu ao poder na América e os começou a votar ao desprezo.
A NATO está em degradação acentuada (embora não declarada) e já nada pode fazer para suster os ataques do PKK apoiados pelos sunitas iraquianos contra a Turquia ameaçada de invasão. Aviões americanos provenientes das bases na Alemanha e na Turquia e dos submarinos nucleares estacionados no mar Egeu e no estreito de Ormuz sobrevoam território turco ao abrigo do artº 5º mas nada podem fazer face à ameaça velada dos MIG russos, que os observam de dedo no gatilho, voando baixinho.
A emigração extra-europeia em direcção à costa sul da Europa (não só proveniente do Médio-oriente onde a guerra está mais acesa, mas sobretudo do norte de África (Libia, Egipto e Tunisia) onde chusmas de negros da África central se concentram lutando entre si por lugares nas barcaças que não cessam de atravessar o Mediterrâneo) prossegue em ritmo descontrolado. As escaramuças -algumas até violentas registando mortos e feridos - nas fronteiras de Ceuta e de Melilla, opondo guardia civil e emigrantes desesperados, ajudados furtivamente pela policia marroquina, acontecem diariamente. Verificam-se desembarques constantes, já não apenas em Lampedusa mas nas ilhas gregas e no Pireu e até na costa do sol espanhola e nas Rivieras francesa e italiana. Ao Algarve já começaram tambem a aportar algumas lanchas desviadas pela guarda costeira espanhola a partir de Gibraltar, com o beneplácito das autoridades britanicas locais. Já se perdeu a conta às estatisticas da emigração extra-europeia e a ocupação das grandes cidades europeias por esta população é impossivel de conter. Já não se confinam só aos bairros periféricos como dantes, mas os centros de Londres, de Paris, de Madrid, de Milão e até de Berlim regurgitam de vagabundos esfomeados e barulhentos. Os partidos politicos mais radicais já começaram a aproveitar-se desta gente (alguns nem percebem o que se lhes diz) para as manifestações de protesto que constantemente organizam nas ruas das grandes cidades. A vida na Europa deixou de ser agradável para os europeus que cada vez mais emigram para a Austrália, para a Nova Zelandia ou para o Canadá, cansados do desassossego e da insegurança em que a vida na Europa de 2020 se tornou. A UE está a marcar passo desde 2008 e cada vez mais os seus recursos são desviados para os subsidios de desemprego e de carácter social que a população envelhecida reclama e os novos emigrantes exigem. A Europa de 2020 está nas últimas!
ALBINO ZEFERINO 15/8/2015
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
O AVISO GUINEENSE
A inesperada e inexplicável demissão do Primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, pelo Presidente daquela Republica (não das bananas que nem sequer tem, mas de traficantes de droga em que infelizmente se tornou), deixou estupefacta a comunidade internacional que ainda deposita alguma esperança na recuperação daquele antigo território portugues que se tornou, após a gloriosa independencia em 1974 das garras da feroz ditadura colonial lusitana, num entreposto oficial de tráfico de droga a nivel mundial. Após anos de sucessivos golpes de estado e de revoluções palacianas (muitas das quais acabaram em chacinas sangrentas) parecia que a eleição de Simões Pereira (homem culto e viajado) tinha trazido algum juizo àquele povo abrutalhado e primitivo. Mas não. O poder continua a ser ferozmente disputado entre as várias raças que medram naquele território com os olhos (e a ganância própria dos desesperados) postas no controle do rendoso negócio da droga, única fonte de rendimento daquela pobre gente. Controlada pela tropa fandanga herdeira do regime castrense imposto pelos portugueses no tempo da guerrilha, a Guiné-Bissau é hoje um Estado falhado, presa fácil (e útil) dos grandes tráfegos internacionais da droga, onde a tropa manda e não permite que outros lhes antolham o caminho do enriquecimento ilicito e imoral.
O afastamento do reformador Simões Pereira é sinal de que nada mais é possivel fazer para desviar aquela gente do seu trágico destino que será infelizmente o desaparecimento dum Estado que nunca deveria ter visto a luz do dia. Mais uma triste consequencia dos utópicos sonhos abrileiros que conduziram Portugal e os seus territórios ultramarinos para a desgraça colectiva em que se tornaram. Não fora o internacionalismo comunista (entretanto desmascarado) e nada disto se teria passado. Portugal teria evoluido naturalmente para uma democracia europeia (sem os sobressaltos que Otelos, Gonçalves e Cia nos impuseram) evitando intervenções externas e submissões vergonhosas aos ditames de outros e Angola, Guiné e Moçambique não teriam passado pelas guerras civis pós-independencias que os destruiram e os transformaram em campos de batalha pela conquista do poder que permitiu a alguns deles controlar os ricos recursos que os seus territórios possuem (petroleo, diamantes, ouro e tráfico de droga).
Ao menos que mais esta tragédia sirva para abrir os olhos aos portugueses incautos. A preocupação (muito lusitana) de dividir o poder com receio que a concentração dele se torne abusiva faz com que o papel do presidente da Republica tenha um relevo que não deveria ter. A não atribuição ao governo e ao Parlamento da totalidade dos poderes do Estado deixando ao presidente apenas um papel representativo, confere a este uma convicção de arbitrariedade nas suas decisões que pode conduzir a impasses como este que agora a Guiné-Bissau está a sofrer. A ambiguidade da constituição portuguesa (bem como as dos países que falam a nossa lingua, excepção feita ao Brasil) neste particular, confere à eleição do orgão uma importancia que não deveria ter e que por isso torna dificil a escolha do melhor candidato. Para mim o bom candidato é aquele que menos promete e que menos actua, deixando o protagonismo apenas e só para os momentos de crise. E nessa altura as decisões terão que obedecer essencialmente aos critérios do bom senso e da moderação e não a ditames partidários ou ideológicos que incendeiam as mentes e as vontades.
ALBINO ZEFERINO 14/8/2015
domingo, 9 de agosto de 2015
UM PAÍS SANTIFICADO
Portugal é definitivamente um país santificado. Desde Santa Engrácia a São Crispim temos santos para dar e vender. Várias SantasMarias(até já temos uma Santa Maria Maior em Lisboa), S.Judas Tadeu, StaFilomena e S. Cristóvão, o dos automobilistas (quem não é?).Da provincia vem-nos S.João e a Senhora de Fátima. Enfim, há santospara todos os gostos e para toda a gente. Contudo nem todos gostam do São Pedro e do S.Paulo. Porquê?
São Pedro é o representante de Cristo na terrra e São Paulo o seu guia, o seu apoio, digamos mesmo, a sua muleta. É uma parelha de santos que muito têm santificado o país. Salvaram Portugal do diabo da troika e da perdição em que S. José nos metera. Alguns descrentes ainda fazem romarias ao tumulo de S.José em Évora,rezando pela sua redenção sem consciencia do mal que ele fez ao país.
Surge agora um velho santo com um novo testamento. É o santo António de Lisboa que não sabe se é mesmo de Lisboa ou se afinal é de Pádua. Dizendo-se alfacinha, preconiza teorias novas vindas de fora (da Grécia, não de Pádua) que nos conduziriam à tragédia grega com despesas anunciadas e caminho aberto para novo descalabro.
Temos ainda o S. Jerónimo (mais conhecido em Espanha onde o seu nome está associado à sede das Cortes na carrera de San Jerónimo) mas mais desacreditado aqui pois defende teorias mortas e enterradas nos restantes países europeus e a Sta Catarina que os lisboetas associam ao belo bairro sobranceiro ao Tejo com raparigas bonitas e desempoeiradas que cantam cantigas de embalar muito do agrado do povinho. Estes são porém santos de segunda que nunca poderão subir aos altares.
Com todos estes santos bem podemos dizer que somos um país santificado. Mas a santificação não vem dos santos. Vem da Espanha. O facto dePortugal ficar entalado entre esse grande e importante país e o mar não permitirá que os nossos santos (qualquer deles que suba ao altar da glória) se desviem do caminho traçado pela troika (que já cá não está mas que espreita na esquina) com fantasias utópicas que possam influenciar nuestros hermanos nas escolhas politicas que vão fazer em Dezembro. As recentes chamadas de atenção do FMI (muito badaladas e mal recebidas pela imprensa portuguesa) de que não podemos fugir dos nossos compromissos (como alguns desejam e até esperam)são a prova do que aqui digo. Deixemo-nos pois de floriados e aguardemos pacientemente as eleições pois seja qual for o resultado tudo continuará na mesma como a lesma. Portugal não tem importancia no contexto europeu e assim conformemo-noscom a nossa sorte e com o nosso destino de país periferico.
ALBINI ZEFERINO 9/8/2015
quarta-feira, 29 de julho de 2015
BARALHAR E DAR DE NOVO
As recentes declarações de Hollande de que a UE se vai reformar com a criação de um nucleo duro de países da eurozona com uma politica orçamental e social comum sob a batuta da Comissão e de um mesmo responsável é o sinal que a França quer transmitir aos restantes europeus e ao mundo de que não vai a reboque dos alemães mas que, pelo contrário, está a conduzir a Europa para a sua redenção "malgré Mme Merkel et son ministre Schauble". Esquece porem o rasteiro presidente que sem a aquiscência dos alemães nada se poderá fazer e que Schauble o que sempre quiz foi precisamente isso mesmo: unir a Europa excluindo dela os indesejáveis.
Só que essa manobra é perigosissima. Afastando os eurocépticos do caminho, o que Hollande (e Merkel) vão fazer é reforçar as hostes dos lepenistas, dos comunistas, dos excluidos (como nós) e dos britanicos em geral, que, aproveitando-se do despeito que tal iniciativa provocará nas cabecinhas pensantes (e sobretudo no seu orgulho) dos dispensáveis,se juntarão numa cruzada anti-europeísta (a chamada "sopa dos pobres") que,em lugar de se unirem (como os pais fundadores da Europa Unida preconizaram) se irão opor drasticamente.
Há assim que estar atento a estes movimentos sinuosos, fruto mais de complexos de inferioridade jacobinos do que de verdadeiras manifestações de genuina preocupação pelo futuro da União europeia e lutar com os instrumentos que a sociedade nos proporciona pela preservação de um status quo que muito demorou a ser implementado e que muitos esforços exigiu aos seus promotores. Deixemo-nos de querer por-nos em bicos de pés e sejamos mais corajosos e determinados em andar para a frente sem lateralizações bacocas ou fantasias sem futuro. O caminho está traçado. Não são precisos mais Monets, Schumans ou Delors. O que precisamos é de Merkels corajosas, Coelhos determinados e Renzis apaziguadores.
ALBINO ZEFERINO 29/7/2015
quinta-feira, 16 de julho de 2015
A EUROPA PARA OS EUROPEUS
Apesar de ter sido conseguido um dificil acordo para salvar a Grécia da bancarrota, a Europa ainda não regressou à normalidade, nem para lá caminha resolutamente. A aprovação ontem no Parlamento helénico das pesadas medidas de austeridade impostas à Grécia pelos seus credores como contrapartida dum 3º resgate financeiro, contra o parecer do próprio governo do Syrisa que assinara em Bruxelas o acordo em questão, é a prova da anormalidade que ainda se vive nesta Europa confusa, assustada e desconjuntada, que a crise de 2007 provocou. Todos dizem e eu concordo que não há condições politicas e sociais que permitam antever que a Grécia se consiga endireitar. Os gregos vivem num paradoxo que irá conduzir o Estado à falência. Por um lado, querem acabar com a austeridade mas continuar a viver como se as causas que conduziram a essa austeridade não tivessem acontecido; por outro, não prescindem de pertencer ao clube dos ricos, sem aceitarem viver segundo as regras dos seus pares.
Mas não são apenas os gregos (ou a maioria deles) que assim pensam. Tambem na Europa civilizada e austera, muitos europeus (sobretudo dos países mais para o sul) estão solidários com os gregos que assim pensam. São os líricos ditos da esquerda fina, que andam de automóvel metalizado, tiram férias no Algarve ao lado dos estrangeiros endinheirados, têm os pequenos no S.João de Brito e não prescindem de um jantarito de marisco aos fins de semana. A estes juntam-se os 10% de matarruanos do PC, invejosos e vingativos, que querem continuar a luta iniciada em 1974 sem perceber que já lá vão mais de 40 anos desde que deixaram a clandestinidade. Luta contra quem? Contra eles próprios e os seus iguais, pois o Portugal do Salazar já não existe há muito tempo.
Os campos estão pois separados entre os austeritários e os anti-austeritários. Os que aceitam as regras impostas pelos tratados constitutivos da UE e aqueles que as contestam. Os que aceitam a UE como ela se apresenta hoje (com Merkel, Schauble, Draghi, Passos e Rajoy) e os que preferem Tsirpas, Varoufakis, Le Pen, Louçã, Yglesias e os da Aurora Dourada, que rejeitam a UE e ambicionam o caos europeu. Não haja ilusões. Não se pense que será possivel avançar no projecto europeu (neste ou noutro qualquer) baseado em numeros falsos, em estatisticas marteladas, em sondagens mirabolantes ou em promessas enganadoras. A questão é simples e clara. Ou queremos continuar no percurso da intergração europeia, cedendo soberania progressivamente à medida e na medida em que isso beneficie a todos, através duma negociação permanente como Monet, Schumann, De Gasperi e Delors preconizaram; ou achamos que é preferivel governarmo-nos a nós próprios, segundo as nossas idiossincrasias próprias, mergulhados nos vicios ancestrais e nadando no mar das incertezas, o que nos empurrará certamente para um fim trágico e doloroso.
A Europa deverá ser para os europeus, tenham ou não nascido no continente, sejam ou não filhos de europeus, sejam brancos, pretos, amarelos ou castanhos. Têm é que possuir o ideal europeu, o que nos impele no sentido da melhoria das condições de vida dos nossos concidadãos, através dum trabalho exigente e solidário, isento de corrupções e de vicios e criador duma sociedade justa e próspera para todos. Quem assim não deseje viver, então que parta para onde se sinta melhor ou onde a sociedade mais se adecue ao seu pensamento e aos seus desejos, seja em África, seja na América ou na Ásia. Vai havendo ainda lugar para todos, segundo as nossas vontades. Há quem goste de viver em Cuba ou na Venezuela. Há quem prefira viver na Síria ou no Libano debaixo de fogo, ou no Amazonas convivendo com crocodilos e pássaros exóticos. A natureza humana é grande.
ALBINO ZEFERINO 16/7/2015
segunda-feira, 13 de julho de 2015
A VITÓRIA EUROPEIA
Mais uma vez Merkel levou a UE à vitória. Qual nova Thatcher, a actual "Dama de ferro" do sec. 21 conseguiu contra tudo e contra todos (Syrisa, Schauble, arautos da desgraça e até Schultz) salvar a Grécia dela própria. Levados pela onda de indignação contra os desmandos da politica que surgiu na Grécia, os gregos foram resgatados por uma simples alemã do Leste, filha de um pastor protestante que, com denodo, inteligencia, determinação e firmeza levou a água comunitária ao seu moinho. Apesar dos vários arautos da desgraça que infelizmente pululam de e em todas as direcções (desde as costas atlânticas até às ilhas do mar Egeu) os vários Conselhos europeus que se reuniram sucessivamente durante 3 dias em Bruxelas (a 28, a 19 e até a 2) foram pacientemente conduzidos ao redil pela mão de ferro desta nova paladina europeia que conseguiu destronar a rainha Thatcher no altar desta velha Europa caduca e problemática, cada vez mais dificil de dirigir.
83 mil milhões é muito dinheiro para juntar aos 300 mil milhões duma dívida incobrável, só para manter os indomáveis gregos dentro dum projecto virtuoso, mas utópico. É preciso muita fé para acreditar que a UE ainda poderá constituir a salvação da velha Europa como continente de referencia, destino desejado duma emigração de desesperados e capaz ainda de se impor aos grandes falcões do mundo moderno (EUA e BRICs). É certo que a Alemanha deixaria de ser a Alemanha unida que pretende ser o país condutor da Europa, se a UE deixasse de ser a UE comunitária como hoje a conhecemos. Sem a Grécia no redil europeu, a UE arriscar-se-ia a um desmembramento a prazo, prenunciador duma catástrofe ainda maior do que a resultante da 2ª guerra mundial. Merkel percebeu isto e Tsirpas tambem.
Foi preciso o telefonema de Obama e a sala de espera de Putin para que a chusma descontrolada dos hierarcas de Bruxelas percebesse que era preciso fazer como Merkel dizia. Agora só falta Tsirpas convencer os obstinados gregos, desesperados, cépticos e assustados, da inevitabilidade deste desfecho. Será que o processo seguirá pacatameente os seus termos, ou teremos novo capitulo desta tragédia grega quando o Parlamento da praça Sintagma chumbar este acordo nocturno conseguido com pinças e através do sono?
ALBINO ZEFERINO 13/7/2015
sábado, 11 de julho de 2015
A PROPÓSITO DA GRÉCIA
Muito se tem escrito (e lido) a propósito da Grécia nos ultimos tempos. Por boas e por más razões, diga-se de passagem. As boas são a consciencialização acerca da inutilidade dos sacrificios impostos aos cidadãos europeus em prol dos principios (muito legitimos, aliás) que enformam a economia de mercado vigente na União Europeia e esteio sobre o qual esta tem vingado desde há quase 70 anos. As más razões são a constatação publica de que nem todos os países europeus (com a Grécia à cabeça) deveriam fazer parte da zona do euro (no seu papel de motor duma integração ainda difusa e mal definida).
A União europeia (como hoje se chama a cooperação entre a maioria dos países que constituem o continente europeu) é um processo dinamico (mais do que uma instituição) em permanente desenvolvimento, sobre o qual têm assentado as dificeis relações entre os países europeus. Sem este processo negocial em movimento permanente (como a Terra em volta do Sol) não teria sido possivel viver em paz durante tanto tempo (basta folhear um simples livro sobre a história europeia para constatar este facto) nem teria sido possivel conseguir o desenvovimento dum continente sem recursos naturais, gasto, cansado, velho e cínico, que ainda dá cartas no mundo globalizado de hoje, onde a primazia é discutida entre países-continentes como os E.U.A., a China, a Índia, a Russia e o Brasil.
A crise grega (com a descarada exposição das aleivosias que as velhas politicas proporcionaram aos antigos politicos) está a tornar-se, mais do que uma ameaça à unidade da União, um desafio à tão badalada democracia sobre a qual assentam os principios enformadores dos países ditos livres. Serão os chamados BRIC (mais os EUA) mais democráticos do que a UE? Ou será ao contrário? Não será a democracia mais uma espécie de crença alumiadora de caminhos do que um verdadeiro código de conduta cuja violação constitui pretexto para uma evicção centrípeta do redemoinho comunitário? Será possivel (eu diria até saudável) para o natural desenvolvimento pacifico, constante e regular do continente, que estejamos permanentemente, por esta ou por aquela razão de politica interna deste ou daquele país, que estar dependentes de eleições, referendos ou quaisquer outras consultas populares, para prosseguir o cada vez mais dificil e espinhoso caminho do desenvolvimento?
Os gregos estão a mostrar ao mundo (como fizeram na Antiguidade) a forma como deverá ser conduzido um processo (dificil, critico até) que terá que ser resolvido com a ajuda e empenhamento de todos, sem exclusões prévias (ou reservas mentais) baseadas em principios dogmáticos inconvenientes ao normal desenvolvimento das negociações, única forma legitima de avançar. Ficar dependente de opiniões ou ditames de terceiros, que estão fora do circuito, percebem mal o que está em jogo e não contribuem eficazmente com o seu empenhamento para uma solução que conduza a uma normalização do processo desenvolvimentista sem o qual a UE não faz sentido, não é bom nem ajuda a UE a sair da crise.
Deixemo-nos de rodriguinhos como quem discute se o penalti do passado domingo foi justificado ou não, ou se a Rosa Mota é melhor do que o Carlos Lopes, ou se o Eusébio do Panteão é mais heroi do que a Amália (que tambem por lá está). O importante para nós é progredir. Produzir mais e gastar menos. Combater a corrupção (que aumenta em vez de diminuir). Libertar o Estado das saguessugas que lhe chupam o tutano. Cumprir os nossos deveres de cidadãos, de bons pais de familia e trabalhar honestamente com alma e pundonor. Assim o exigem os nossos maiores (os que estão no Panteão e os que tambem lá deveriam estar).
ALBINO ZEFERINIO (correspondente diplomático aposentado) 11/7/2015
sábado, 4 de julho de 2015
O REFERENDO EUROPEU
Paradoxalmente, o referendo que hoje está a realizar-se na Grécia não é tanto para decidir sobre se a Grécia deve ou não manter-se na UE, mas sobre se a UE subsistirá ou não sem a Grécia. Se os gregos disserem sim ao referendo, a UE prosseguirá o seu caminho, se disserem não, a Grécia acabará por sair da UE e isso será o principio do fim do sonho europeu.
É evidente que não é assim que o problema está hoje a ser posto aos gregos, mas serão assim as consequencias da resposta dos gregos. O que os gregos estão a decidir hoje é se concordam ou não que o governo do Syrisa deva ou não ceder às condições dos europeus para poder continuar na UE. Se o povo grego concordar, o Syrisa fica de mãos livres para ceder nas negociações com a Comissão e com o FMI, e a Grécia será inundada de euros e os gregos ficarão cada vez mais endividados e com mais austeridade em cima deles, mas dentro da UE . Caso vença o não, então o Syrisa fica sem margem de manobra para negociar com a UE e livre para se entregar nas mãos dos russos ou dos turcos, alterando o equilibrio estratégico existente na delicada zona onde a Grécia se insere e condenando a UE a uma morte lenta e dolorosa.
Serão pois os gregos e não os alemães ou os ingleses e muito menos os portugueses, os letões ou os eslovacos quem decidirá em ultima análise o destino desta Europa dilacerada por guerras devastadoras e afogada em problemas e crises financeiras e sociais. Caso o veredicto grego seja favorável à Europa como ela hoje se lhes apresenta (com sacrificios mas com futuro) ou caso seja contra ela, determinando a saida da Grécia da UE a prazo (mesmo que os votantes disso não se apercebam hoje claramente), será o voto dos gregos, no referendo que o seu governo lhes apresentou, que determinará o futuro da UE e, em última análise, o futuro da civilização que os próprios gregos ajudaram a criar.
ALBINO ZEFERINO 4/7/2015
sábado, 27 de junho de 2015
DO GREXIT AO BREXIT
Afinal parece que se descobriu uma solução "politica" para resolver a tragédia criada pelos gregos à Europa caduca, confusa e desconfiada. Tsirpas (ou terá sido Merkel?) inventou um referendo cujo resultado é conhecido de antemão e que vai salvar a face ao Syrisa e o euro aos europeus. A coisa será já de amanhã a 8 dias (para despachar um assunto que já durou demasiado tempo para ser considerado um simples acidente de percurso) e voltará a por a UE em velocidade de cruzeiro (agora já mais acelerada).
Com o aval da maioria dos gregos quanto à permanencia do seu país na zona euro (e consequentemente na UE), o Syrisa ficará de mãos livres para aceitar tudo e mais alguma coisa que Merkel e os seus próximos queiram. Depois é só aguentar as greves e as manifestações que se seguirão. Passos fez o mesmo depois de jurar que o povo portugues não iria sofrer com a intervenção da troika. Mas a honra do convento será salva.
Merkel e os alemães é que terão que começar a abrir os cordões à bolsa a partir de agora. É a cobrança que Tsirpas lhe sacou a troco do referendo. A partir da resolução do caso grego a UE já não será a mesma. Terá que avançar resolutamente no caminho da integração politica do continente. Será um federalismo europeu, diferente dos federalismos nacionais, mas vamos ter seguramente soberanias partilhadas. Em que termos, não sei. Mas posso calcular. Controle orçamental, harmonização fiscal, união bancária, entre outras politicas comuns.
Em contrapartida da resolução do caso grego, a UE passará a ter que enfrentar o caso britânico. Da ameaça do Grexit passará para a ameaça do Brexit. Mas aqui a coisa fia mais fino. Por um lado, a Grã- Bretanha não faz parte do euro, o que facilitará a sua saida da UE. Por outro, aliviará o orçamento comunitário pois o RU deixará de receber as verbas compensatórias que hoje recebe. Mas uma coisa será o abandono de um país marginal como a Grécia, cheio de problemas e sem peso especifico e outra será a saida de um grande país europeu como o Reino Unido, protagonista continental, antigo império ultramarino e contribuinte liquido para o orçamento comunitário. Será certamente um abalo grande para a UE. Mas os custos duma eventual saida britanica da UE não provocarão problemas económicos e financeiros tão fortes como a saída da Grécia. E os laços comerciais com os britanicos certamente permanecerão (são do interesse mútuo) através de um acordo de associação ao qual os ingleses não são alérgicos. Porém nunca se sabe como Cameron (que já provou ter fibra) manejará o referendo britânico. Até pode ser que os ingleses se encolham. Há que ter esperança.
ALBINO ZEFERINO 27/6/2015
segunda-feira, 22 de junho de 2015
HÁ MAIS EUROPA PARA ALÉM DA GRÉCIA
Diz Nicolau Santos no seu Expresso curto de hoje que "a Europa está a fazer um braço de ferro com a Grécia por causa de menos de 1/4 do que os portugueses estão a pagar com lingua de palmo devido à falência fraudulenta do BPN."
A ser assim, então a questão não é de dinheiro. Pensando bem e depressa, o problema é mais profundo do que alguns milhões de euros que deveriam ser poupados e não são. Essencialmente o que as instituições internacionais credoras querem é que o governo grego corte nas pensões dos gregos. E o governo grego não quer. As pensões gregas são elevadissimas comparadas com as dos restantes países europeus e embora não representem no seu todo mais do que 0,5% do PNB da Grécia, reflectem uma forma de ver a vida diferente, consoante o problema seja encarado pelos países ricos do norte da Europa ou pelos países pobres do sul.
Para os nórdicos a pensão representa a parte com que o Estado colabora na reforma do empregado. Este, logo que se emprega, estabelece com uma qualquer entidade especializada (banco, cia de seguros, fundo de capitalização, etc.) um programa de reforma que lhe permitirá gerir a sua vida de trabalho conforme deseje. A participação do Estado nesse plano é residual. É assim que os nórdicos encaram o "magno" problema das reformas nos seus países. Para os sulistas, é o Estado quem deve suportar todas as despesas que o reformado tenha, logo que este deixe de trabalhar. E como a preocupação do sulista não é trabalhar muito e bem, mas pouco e mal (preparação das férias, das pontes e dos feriados, baldas, cafézinhos a toda a hora, convivio com os colegas, telefonemas às amigas, buscar os meninos á escola, reivindicações sindicais, etc. etc.em vez de produzirem algo de positivo), será o Estado (ou seja, os impostos pagos proporcionalmente por todos, bons ou maus trabalhadores) que fica obrigado a sustenatr este bando de calões que nunca trabalhou quando devia e que agora na velhice exige ser sustentado pelos outros (os ricos que paguem a crise, como gritam os comunas deseperados pelas ruas). É este o verdadeiro problema que separa gregos e troianos, ou seja os que trabalham dos que não trabalham. E os que trabalham não estão para sustentar os que nada fizeram nem fazem. Isto passa-se em todos os países do sul e não se passa nos restantes países do norte da Europa. Por isso, alemães, finlandeses, suecos, checos e holandeses, entre outros, não estão dispostos a ceder aos gregos. Senão teriam que ceder aos espanhois, aos portugueses, aos franceses e a outros mais. Como cada vez há menos postos de trabalho (eu prefiro dizer, necessidade de mão de obra humana) e os velhos persistem em viver mais tempo (graças aos avanços da medicina e dos serviços sociais) e a demografia tem vindo a baixar na Europa, o problema tende a agravar-se de ano para ano.
O problema não é assim exclusivamente grego, mas abrange a Europa como instituição que se pretende global e coordenadora de politicas comuns que sirvam a todos os europeus de igual forma. E esta questão, sendo global, não é encarada por todos da mesma forma, pois não nasceu nem foi tratada da mesma forma por todos os países que compõem a UE. Como resolvê-la para o bem geral e com a aquiscência de todos (bons e maus trabalhadores, velhos e novos, nortistas e sulistas, escuros e claros, obedientes e rebeldes, cultos e ignorantes, etc. etc.) não vai ser tarefa fácil, mesmo que os gregos não saiam para já da UE, o que seria uma tragédia suplementar e quiçá mais grave ainda.
ALBINO ZEFERINO 22/6/2015
sábado, 20 de junho de 2015
A TRAGÉDIA GREGA
A não ser que aconteça uma reviravolta inesperada nas posições extremadas do actual governo grego e dos responsáveis pelas instituições credoras da Grécia, tudo indica que a Grécia irá sair em breve da zona euro e depois da própria União europeia. O governo grego está convencido de que os alemães irão ceder à ultima hora, pois o futuro do projecto europeu a isso os obrigará. Nisto consiste a chantagem. Mas, apesar da consciencia do risco de desmembramento a prazo da UE que a Alemanha enfrenta com a manutenção deste braço de ferro, creio que os credores não irão desarmar, pois seria abrir um precedente para casos semelhantes (como o portugues e o espanhol) que certamente não perderiam a oportunidade para reclamar iguais benfeitorias .
Enquanto os europeus se preparam para o embate na intenção de minorar ao máximo as consequencias devastadoras que o abandono da Grécia da União vai provocar, os gregos continuam numa inconsciente letargia (à espera de Godot), sem mostrarem preocupação maior pelo deflagramento duma situação por eles provocada e que vai pôr definitivamente em risco a sua subsistencia como país independente. Não vai ser o recurso à ajuda russa (que esfrega as mãos de contente com esta situação) ou a submissão militar aos ditames da NATO (a partir da Turquia vizinha) que irão salvar a Grécia da bancarrota certa que uma saida precipitada da UE vai provocar no país.
E a UE? Aguentará incólume este embate? Tambem não creio. Não me parece contudo que, à semelhança do que ocorrerá na Grécia (a questão da Macedónia e a próximidade da Turquia a isso sugerem), a UE se venha a desfazer aos bocados. Será certamente uma ocasião para se avançar decididamente para uma integração mais institucional do continente, que evite cisões futuras. Não excluo tambem que esse aprofundamento institucional venha a cobrir outras áreas de preocupação vital para os europeus, como é o tratamento do caso dos imigrantes ilegais provenientes do norte de África. Uma tragédia nunca vem só e às vezes até traz soluções que de outro modo seriam impossiveis de alcançar.
ALBINO ZEFERINO 20/6/2015
Subscrever:
Mensagens (Atom)